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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

A Crônica da Rua dos Andradas

Por Wladinir Borgonovi Lá pelas tantas precisei me desfazer na empresa de uma boa quantidade de micros velhos, aqueles 386 ou 486 que alguns usuários vez por outra gostam de atirar pela janela. Eu tinha alguns poucos, mas inconvenientes metros cúbicos dessas bugigangas. Alguns sem memória, outros sem a fonte e assim por diante. Bem, e o que fazer com tudo aquilo? O bom é que nessas horas sempre aparece o amigo do amigo que talvez conheça alguém que aproveite algumas peças. Foi assim que chegamos ao Sr. Antonio. Ele veio nos visitar e fechou o negócio “olho no olho" nos oferecendo algumas poucas centenas de reais. Claro que a negociação toda não fugiu da tradição brasileira. Recebemos o pagamento em "dois chequinhos", um para cair no dia e o outro para não sei quando. Fechado o negócio, esperamos pelo dia seguinte, quando ele viria com a Kombi e dois auxiliares buscar os equipamentos. Quando vi os auxiliares carregarem aquelas “preciosidades”, não consegui segurar a curiosidade de saber qual seria o destino daquelas máquinas. Convidei o Seu Antonio para um cafezinho e fiz as perguntas. Quem é o senhor? O que quer com tudo isso? Onde fica a sua empresa? A história que veio a seguir foi uma lição. Logo para mim, que pensava entender tudo do assunto. Para tornar uma longa história em algo mais curto vou tentar resumir. A pessoa que comprou aqueles computadores velhos trabalhava como executivo em uma multinacional há pouco tempo. Hoje, ele é proprietário de uma loja na Rua dos Andradas, no Centro da cidade, que fica próxima ao Bar do Léo, na esquina com a Rua Aurora. Acho que os paulistanos devem conhecer bem o chope do local. Na Rua dos Andradas existe uma grande oferta de equipamentos voltados para uma parcela de clientes excluídos do mercado “dos novos”. Chegam a essas lojas pequenos comerciantes que precisam automatizar a farmácia ou o garoto que juntou com bocado de sacrifício R$ 300 ou R$ 400. Na verdade, o Seu Antonio monta ali algo parecido com um Frankenstein ou com uma somatória de placas. O resultado disso é, por vezes, ver um garoto sair todo feliz da loja, retornando seis meses depois com o equipamento e mais uma graninha para conseguir algo tecnologicamente mais avançado. Convenhamos, não são tantas as pessoas que têm R$ 2.000 ou R$ 3.000 para comprar um equipamento novo. Porém acredito que exista muito mais gente interessada em ter um micro em casa, que sacrificaria outros investimentos importantes para a família em troca de fazer parte da era tecnológica que vivemos hoje. É esse pequeno comerciante ou esse garoto que devem ser glorificados pelo esforço de investir em mais conhecimento e modernização. E veja que muitos deles são ou serão seus clientes algum dia. Há pouco tempo, falávamos dos clientes que têm computador em casa como aqueles de alto poder aquisitivo. No entanto começa a surgir uma parcela interessante de consumidores que, em pouco tempo, será importante para um dos segmentos de tecnologia e que possivelmente estará pagando contas pela Internet e usando tudo o mais que a rede nos oferece. Certo, parte dos paulistanos sabem bem o que a Rua Aurora tem como fornecimento de serviços, digamos, femininos. Apesar da fama que a rua e seus entornos levam, o Seu Antonio e os comerciantes locais estabeleceram um acordo empresarial muito importante, que só fez agregar para a economia local. Claro, os comerciantes não atuam na área de sexo, tampouco as meninas vendem computadores. Muito justo para ambos. Wladinir Borgonovi é vice-presidente da área de Internet da Sucesu-SP (Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações de São Paulo). E-mail: wladinir@amcham.com.br.

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