À sombra do jardim da Patriarca
"Em 1980 me casei e fui morar em São Paulo, pois o meu marido trabalhava na Blindex. Era funcionária do Banespa, na cidade de Taubaté (SP), e pedi transferência para a agência Patriarca." Foi assim que começou o "affair" entre Maria Inês Shibata e o Centro de São Paulo e com o jardim do prédio. Mesmo quando, em 1984, voltou para sua cidade natal, ela não perdeu o gosto pela região nem o costume de tirar dali os seus rendimentos.

No começo foi muito complicado, pois Inês não conhecia a cidade e tinha de tomar ônibus todos os dias na avenida Brigadeiro Luís Antônio e descer no Largo São Francisco --para chegar ao trabalho às 7h. "De lá, eu ia a pé até a Praça Patriarca, com sol, chuva ou frio, mas tinha que ir. Não foi fácil no começo, mas com o tempo fui achando o Centro da cidade interessante. Tinha coisas belas para ver, coisas gostosas para fazer, além de trabalhar e trabalhar", lembra ela.
Na hora do almoço, às vezes, Inês e os colegas de trabalho iam almoçar por perto da agência, outras, ficavam na frente do Teatro Municipal --que estava às vésperas de sua última reforma. "Ficávamos na escadaria da entrada tomando refri ou batendo papo e imaginando como seria lá dentro. A maioria do grupo vinha do interior e não conhecia um teatro como aquele, imponente." Eles também gostavam de ir ao Mappin, para fazer nada. O gostoso, segundo ela, era andar e ver coisas bonitas para montar a casa nova, afinal tinha pouco tempo de casada.
"Ah! Me lembro também do terraço da Patriarca. Não é um simples terraço, é um jardim enorme cheio de arvores, até frutíferas. É muito lindo!", destaca Inês. Segundo ela, naquela época, somente os funcionários do banco tinham acesso ao terraço porque, antes, quando era aberto a visitantes, algumas pessoas cometeram suicídio se jogando de lá de cima. Histórias escabrosas à parte, Inês recomenda que todo paulistano conheça o jardim e, de preferência, vá acompanhado porque a altura pode assustar.
"O meu momento mais marcante do Centro foi quando, um dia, resolvi andar por todas as ruas da região. Vi que existem muitas cidades e Estados dentro de um só bairro. O Centro mais se parece uma cidade dentro de Sampa, que vive sem se preocupar com outros bairros de tão autônomo que é, pois tem lojas, lanchonetes, restaurantes, bancos, médicos, advogados mil, cartórios etc. Parece que o Centro vive em um mundo à parte da cidade. Enfim, o lugar é mágico de ver, ouvir e pensar."
Hoje ela freqüenta a região da 25 de Março e Ladeira Porto Geral para ver as novidades da moda e comprar artigos para montar suas bijouxs. "É o maior espetáculo de venda nas calçadas. E eu acho muito engraçado, quando alguém berra 'lá vem o Rapa', e os vendedores têm que sair correndo para não perder as mercadorias", comenta. Ela enfatiza que mais e mais adora a região, com tantas coisas para ver, fazer, que ainda não deve ter conhecido. Como o próprio Teatro Municipal onde ainda há de entrar. "De vestido longo e tudo", brinca. (17/02/2002)