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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 24.02 ºC, São Paulo

Ilha de misturas

Uma ilha de misturas. É assim que Renato Chiappetta define o Mercado Municipal. E ele mesmo explica: “Entre os pontos históricos do Centro, há os prédios abandonados e os que foram restaurados e acabaram por perder sua função original. O Mercadão não está enquadrado em nenhuma das duas classificações”. Essa tese é o ponto de partida do curta-metragista, que, ao lado de Diogo Sallum, se prepara para mergulhar numa nova forma de fazer cinema: o longa-metragem. “Queremos explorar o mercado das salas de cinema e a televisão também. Nada melhor para começar do que algo que vivi desde a infância”, diz. Chiappetta foi levado pelo pai pela primeira vez ao Mercado quando tinha seis anos. “E já me colocaram no batente no Empório [fundado por seu avô, Carlo]”, brinca. O documentário se chamará “Mercado Central”. “Não podia dar outro nome, né? Ia ficar bobo e, afinal de contas, ele é o grande personagem do filme.” Os cineastas pretendem lançar o longa no começo do ano que vem, quando o Mercadão completa 70 anos de existência. “Além de ter a efeméride, queremos inscrevê-lo no Festival de Documentário É Tudo Verdade, que acontece em abril”, afirma Sallum. O filme vai abordar a fundação do Mercadão, em 25 de janeiro de 1933, para tirar os feirantes das ruas da cidade, que começava a crescer com a instalação das primeiras linhas de bonde. “Muitos comerciantes estão lá desde a fundação e contam como foi difícil, no começo, levar as pessoas até a Rua da Cantareira. Não passava bonde nem nada e a região era um pântano só”, diz Chiappetta. Somente em 1939 o “Trenzinho da Cantareira” e os “caras-de-pau” começam a passar por ali, levando os trabalhadores e sendo abastecidos no Mercadão. Além dessa questão, o filme vai tratar de arquitetura, história, imigração, comida e do futuro do local. “É um comércio familiar, que passa de pai para filho ou sobrinhos. Hoje em dia, esse sistema vem entrando em decadência, em razão da descontinuidade das gerações.” Já foram filmadas cerca de 20 horas de fita bruta. “É pouco ainda, mas já deu para ter uma idéia de como vai ficar o documentário”, diz Sallum. “Ficou bom, muito bom mesmo”, já completa Chiappetta. Fora a extensa pesquisa feita sobre a região, o longa vai contar com depoimentos de donos de banca e funcionários. “Cada boxe tem sua história. Como eu conheço muitas de cor e salteado, já sei o que procurar”, afirma Chiappetta. “Todo mundo me conhece, chama de ‘meu filho’, passa a mão na cabeça. É só dar umas apertadinhas que eles me contam tudo.” (05/02/2002)

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