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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Cem árvores dão depoimentos sobre São Paulo

Os videoartistas Ricardo Coelho, 27, Fernando Mastrocolla, 26, Carlos Serejo, 24, e Silvio Ariente, 23, tiveram uma idéia simples e contundente: o curta-metragem “Cem Árvores em São Paulo sem Árvores”, com quatro minutos e meio de duração.

“Combinamos de fazer desenhos de observação, quase como se quiséssemos um depoimento dessas cem árvores. Sou capaz de mostrar todos os lugares onde as desenhei”, conta o velhinho do grupo. A técnica utilizada para compor o filme foi o desenho de lápis grafite sobre papel, que depois foi transposta para o vídeo. “Era isso e um roteiro numérico de quantos ´entrevistados´. Não sabíamos o que ia sair até a edição do Fernando.” Toca ao fundo uma pequena obra de arte, poesia, sonoridade e crítica: uma música de Arnaldo Antunes. “Foram cerca de 1.600 desenhos e uma imagem de vídeo, exatamente a que fecha o curta e que “amarra o início e o final”. “Usamos a velha estrutura tese/antítese/síntese: um título afirmativo, um miolo alegre e atemporal e um final que é quase um alerta”, diz Coelho. “O mais surpreendente é que achei a imagem final a um quarteirão da minha casa, em Ermelino Matarazzo. Foi um aviso perfeito: a placa de "pare" em vermelho, uma árvore esquelética e um poste, que era o espelho dessa árvore.” “Queríamos uma linguagem que fosse acessível para todos os públicos. Imaginamos pedir para várias pessoas pensarem em uma árvore. Em um milhão de pessoas, não teríamos uma que fosse igual a outra. Isso de alguma forma despertou uma possibilidade crítica em relação à cidade”, continua Coelho. A motivação não foi nova --“simplesmente adoramos São Paulo”--, mas o paradoxo contido no pressuposto do título incentivou a produção do curta. “Cem árvores é um número insignificante. Qualquer avenida ou parque da cidade tem essa área verde. Mas fica o contraste com o resto da cidade, principalmente nas periferias, onde quase não há plantas. São Paulo é o resultado de um crescimento desordenado de cidade grande sem política urbanística”, continua. E o Centro nisso tudo? “Com certeza, projetos de revitalização da região não faltam. Eu gostaria de participar de algumas dessas iniciativas. Não existe solução mágica. Só um estudo profundo unindo as diversas camadas da sociedade pode gerar transformações”, diz o videoartista. E conclui: “O Centro é lindo. Cheio de contrastes, que acabam dando um ar particular a São Paulo. Mas a crise social parece impedir uma modificação da situação atual”. 19/02/2002

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