Reinventando o Centro

Para ver a exposição do pintor Gregório Gruber é preciso ir até o Morumbi, bem longe do Centro. Por que ela está aqui no Sampacentro então? Basta um olhar nas pinturas ao lado pra descobrir. Em muitas de suas obras, o artista retrata a região central da cidade. São João, Major Sertório, Pátio do Colégio, Banespa... estão todos lá.
O interesse em pintar o Centro surgiu das lembranças de Gruber, que, quando era adolescente, morava na Rua Martins Fontes. Isso foi no início dos anos 60. “De lá pra cá, a transformação foi impressionante”, conta com um jeito triste. “Eu rodava muito por lá, conheci o Centro chique e acompanhei todo o seu deterioramento.”
Para conseguir retratar a região, Gruber explica que precisa fugir dessa degradação, porque só assim a enxerga de verdade. Para isso, faz suas visitas em horários mais tranqüilos. “Gosto de ver a cidade nua, relaxada, não invadida.” Para o pintor, uma das maiores invasões que o Centro sofre é a poluição visual, marcada pelo excesso de camelôs, carros, ônibus e principalmente de propagandas. “Deveria haver uma lei para limitá-las, pois escondem a belíssima arquitetura do lugar. O que fizeram com a fachada do Cine Metro é um exemplo.”
Com a experiência de quem observa detalhes da vida no Centro e de uma maneira ou de outra reinventa sua paisagem, Gruber faz outra crítica: “Não há lugares para caminhar. Faltam parques e áreas de lazer para as pessoas usufruírem a região”. Para ele, é fundamental aprender que usufruir não significa apenas fazer compras (como muitos pensam), mas também olhar, passear, curtir. “Hoje, os paulistanos se enfurnam em shoppings e perdem a convivência urbana.” E, para o pintor, que é formado em arquitetura e urbanismo, o Centro é o lugar perfeito pra fugir dessa mania de muitos que vivem em São Paulo. (07/01/2002)
Serviço:
Exposição Gregóio Gruber, Pinturas e Papéis
Galeria Múltipla de Arte
Av. Morumbi, 7.986, tel. 241-0157
De segunda a sexta, das 10 às 19h, e, aos sábados, das 10 às 14h, até 26 de janeiro.