Volta de Brigadeiro
Por Lúcia Valentim Rodrigues
"Viagem em veículo automóvel para transporte público de passageiros com itinerário preestabelecido." Dizendo assim parece meio monótono andar de ônibus. Não se você estiver passeando pelo Centro de São Paulo. Fui da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no bairro do Bixiga, até a Alameda Barão de Limeira, em meio aos casarões desgastados da belle époque paulistana. Tive sobressaltos e assisti a cenas que se revelaram verdadeiros tesouros.

Dia agradável, de sol sem muito calor, me integrei ao percurso do veículo --denominado de linha Terminal Princesa Isabel-- logo em frente ao burburinho dos teatros Jardel Filho, Abril e Bibi Ferreira, então enfraquecido pelos feriados coletivos de final de ano.
Desci a longa Brigadeiro, desfalcada como nunca antes, contornei a ruidosa Praça da Sé, com seus insistentes camelôs, e desemboquei na caótica Rua 25 de Março, atolada pelos "atrazildos" compradores de presentes de plantão. A Rua Santa Ifigênia parecia uma festa, de tanta gente! Comprem dois por um real, três por um real, é quatro por um real!!! Vamos levar, minha gente!!!
De longe, o itinerário nem se abalou. Seguiu como sempre. E eu fui junto, prestando atenção ao caminho, já que dentro do ônibus --com meia dúzia de gatos pingados-- não havia histórias para contar.
Assim distraída em meus pensamentos, me assustei tanto que meu coração quase pulou quando passei pela Avenida Ipiranga: o Bar Brahma estava fechado para balanço, com seus toldos baixos. Desesperador! A esquina com a São João ficou mais tristonha. E eu me deixei ficar pensativa, relembrando o último amigo secreto da galera ocorrido ali.
Em seguida, passamos pela General Osório, em pleno movimento de compras e vendas. Os "boqueiros", compradores de carros usados, também trabalhavam a sério, com sua habitual gesticulação e assobios. Nada de feriado para quem é autônomo. "Tem de ganhar o dinheirinho do presente das crianças", justificava um. "Depois a gente pode comemorar."
Saltei logo, que pena!, na Barão de Limeira, pertinho do prédio da Folha de S.Paulo, para infelizmente trabalhar. Mas pelo menos foi mais poético trabalhar ao lado da --não por bons motivos-- famosa Boca do Lixo paulistana. (07/01/2002)