Sebo não é nojento!

Por Matheus Pacheco de Andrade

Centro de São Paulo. Onde começa o Centro, onde acabam os bairros? São Paulo é um imenso Centro de ponta a ponta, até onde a vista alcança, tomando o horizonte de prédios altos e cinzentos. Centro de São Paulo pra um sujeito de fora, pra um sujeito que nunca pisou numa megalópole antes, pra um humilde caipira maravilhado com a tal cidade grande, babando por tudo o que tem a oferecer o Centro de uma cidade grande: Sebos, sebos, sebos. Por todos os lados! "Vende revistas, livros e discos!" Revistas, livros e discos? UAU! O Paraíso!!! Guiado pelo sempre solícito e gente boa Mordred iniciamos nossa inclemente caminhada na Liberdade - que, por questões logísticas não vem ao caso agora, mas que vale sua passeada. Vale lembrar aqui regrinhas básicas pra se mergulhar no passado e adentrar no maravilhoso Túnel do Temp... ops... Mundo dos Sebos! 1 - Saber o que gosta. Um sujeito que não gosta de nada (ou não tem lá suas preferências culturais)acaba sentindo-se perdido no meio de tanta informação desordenada. Já aquele cara que gosta de tudo tende a sofrer repetidos infartos deliciando-se com tantos atrativos. 2 - Paciência. Por mais organizado que seja, um sebo não passa de um amontoado de livros e revistas empoeirados e empilhados (ou amontoados, como eu já disse). Os discos costumam estar divididos em três seções: Clássicos da Caras, Internacionais e Nacionais - o que pode acabar frustrando aquele que não tem paciência pra fuçar em prateleiras... ou a quem não tem dedos... 3 - Bom humor. A quem se aventura nestas odes ao tempo é necessário imenso bom humor. Cada prateleira de um sebo pode levar a duas reações: choros convulsivos – por encontrar o Graal literário há tanto buscado - ou risos incontroláveis - pelo ridículo de certos itens ali expostos. Sem contar o velho misto de pasmaceira, admiração e vergonha diante da já clássica prateleira de Seleções do Reader's Digest do século XI lotadas de "avanços tecnológicos revolucionários" - vale o esforço, sempre... 4 - Dinheiro. "Sebeiro" que se preza quer levar tudo o que encontra pela frente. Resta apenas descobrir de onde surgirão insumos pra estas extravagâncias culturais. Sou péssimo com nomes e sem blocos à mão, só me resta explicar tudo o que vi. Começamos com o Sebo do Messias, que é logo atrás da Catedral da Sé (valeu, Mordred, por lembrar o nome). Três lojas em uma só calçada. Uma profusão de livros velhos de direito, medicina, sociologia e o escambau. Pouco gibi, infelizmente (que tristeza!). Alguns CDs meia boca... Acho que só vale a pena mesmo pelos livros (não é difícil achar títulos interessantes) e pelos discos de vinil (que apresentam uma razoável coleção de jazz). Logo do outro lado da rua há um sebo (não me pergunte o nome, sorry) cujo grande destaque é a profusão de CDs e vinis. Sua parte de livros e revistas deixa a desejar, apesar da incômoda (pra quem freqüenta sebos) organização. Vale mais pro "musicófilo" atrás daquele CD meia-boca baratinho. Como eu disse, não sou de São Paulo. Isto acaba atrapalhando um pouquinho na hora de me localizar naquele caos absoluto que vocês chamam de cidade. Mas sei que tem uma grande construção antiga, com uma praça na frente onde tem algumas estátuas em poses "calientes". Pra tentar melhorar a localização, neste prédio tem algumas coisas de Eucaristia e tal - deve ser algum setor da Igreja. Pues, ao lado deste prédio há uma banquinha, com vários livros expostos sem ordem aparente, onde os melhores exemplares escondem-se atrás de ameaçadoras goteiras de água de tom amarronzado. Vale qualquer esforço para alcançá-la, não só pelo inusitado da situação, como pelos ótimos exemplares oferecidos em livros. E esta é a minha sugestão pessoal. Bom, era isso. Acho que a falta de endereços não deve comprometer muito este pequeno e humilde Guia do Sebeiro Moderno... Até. (17/12/2001) Matheus Pacheco de Andrade é colunista do www.omelete.com.br. E-mail: daigoro@matrix.com.br