Mendigos fazem festa no Municipal

O Teatro Municipal reviveu, no último dia 10, uma história de 28 anos atrás. O espetáculo “Os Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos”, de 1973, reuniu artistas para cantar e ler a Declaração Universal dos Direitos Humanos, nas comemorações do dia mundial de sua promulgação, em dezembro de 1948.
Em plena ditadura de Médici, quanto mais a platéia aplaudia a leitura, mais o cerco policial em volta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro aumentava.
“Era para eu ler apenas uns poucos artigos. Acabei lendo quase 20 dos 30 direitos da Carta”, conta o poeta e membro da Academia Brasileira de Letras Ivan Junqueira em gravação para a versão atual do evento.
Foi um show e tanto. Em meio a depoimentos comentados de gente que participou do movimento na década de 70, iam se apresentando Johnny Alf, Joyce, Zeca Baleiro, Jards Macalé, Lenine e outros tantos.
Os novatos do Barbatuques foram os primeiros a levantar o teatro lotado, com sua percussão sem instrumentos. Foi tudo nas palmas das mãos, nos pés e no corpo. O “barbatuque” foi geral.
O evento também fez história, com a volta do grupo Os Mulheres Negras. Fazendo sua ironia de sempre, pararam de cantar e tocar para esperar os aplausos, enquanto ao fundo um playback continuava a apresentação.
Empolgadíssimo, Zé Rodrix quase se recusou a deixar o palco, ao lado de Sá & Guarabyra. Teve mais: Rappin’ Hood, Ceumar, Walter Franco, Renato Borghetti, Chico César, Vulgue Tostói, Renato Braz... Ufa!
No final das mais de três horas de espetáculo, Zélia Duncan foi aplaudidíssima ao pedir paz para a alma dos homens. Encerrando, Lia de Itamaracá foi a grande surpresa do evento, convidando todos a dançar e fazendo as pessoas se unirem em uma grande roda para abraçar o teatro. Foi a apoteose!
Tudo fez pensar se não podemos fazer mais pela luta dos direitos humanos. O Municipal já fez a sua parte. E vale a pena brigar pelo direito de “liberdade de expressão e opinião e de, sem interferências, ter opiniões e procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. (17/12/2001)