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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Baixei n'outro Centro

Meia hora depois que deixei o aeroporto --que ficava um pouco longe da cidade –-me deparei com o primeiro congestionamento. Vários carros desciam o acesso do viaduto para a avenida Nove de Julho. Em todos os faróis da avenida havia pelo menos uma pessoa vendendo paninhos, balas ou simplesmente pedindo esmolas. Estava em Buenos Aires! Eu, paulistana, me senti em casa. Logo percebi que as diferenças entre São Paulo e Buenos Aires diziam mais respeito à Copa do Mundo do que à estrutura de cada cidade. Apesar de bem menor do que Sampa, a capital portenha também tem um trânsito infernal, briga contra o desemprego e ultimamente tem sofrido com seqüestros relâmpagos. Ah, e conta com um Centro maravilhoso, que foi, aliás, onde fiquei hospedada. O NH Jousten Hotel mostrava bem o que é o Centro de Buenos Aires --o moderno tentando harmonizar-se com o antigo. Em um prédio construído em 1928 com referências a diversos momentos da arquitetura mundial, as portas dos quartos eram abertas com cartões magnéticos, que também eram utilizados para acender as luzes por meio de um dispositivo parecido com os de caixas eletrônicos. Eram seis e meia e o sol ainda iluminava a cidade. Tinha acabado de sair de um treinamento e resolvi dar uma volta. Comecei pela rua Florida, que era pertinho do hotel e, pelo jeito, uma das principais referências da cidade. Entrando lá, tive impressão que, de repente, estava de volta a São Paulo, andando pela 24 de maio. Era um calçadão com milhares de letreiros, placas e luminosos de todas as cores anunciando restaurantes, bares, lojas de roupas, CDs e até artigos para detetives. Shows aconteciam na rua, inclusive um de tango, embalado pela música que vinha de uma caixa acústica ligada a um toca fitas. A ausência de camelôs e do cheiro de cândida indicaram de que eu ainda estava em Buenos Aires. Nessa minha caminhada pela capital argentina, que durou cerca de três horas, conheci alguns dos principais pontos da cidade, como a Praça de St. Martin e o bairro Recoleta. Na volta, passei de novo na rua Florida. O relógio já marcava nove e meia da noite, mas ao contrário do que vemos no calçadão do Centro de São Paulo, em Buenos Aires não há o “toque de recolher”. A rua estava completamente iluminada, algumas lojas ainda abertas, gente passando na rua e artistas vendendo souvenires – o que mais me chamou a atenção foi um hippie que pintava LPs com imagens como a foto dos Beatles e o prisma do Pink Floyd. Era uma noite de primavera-quase-verão e que delícia que foi esse passeio, especialmente a parte de constatar que o Centro não precisa ser perigoso. São Paulo que me desculpe, mas temos que tirar o chapéu para os portenhos e aprender a refazer o nosso Centro –-em matéria de segurança. Para podermos ter o prazer de visitar a Galeria do Rock às 22h30 de um sábado, quem sabe? (03/12/2001)
Jordana Viotto da Cruz

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