Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Viajar é preciso


Por Sérgio Rizzo

Quem nasceu em São Paulo ou chegou à capital a partir da década de 80 aprendeu a viajar de ônibus para outras cidades a partir de terminais ligados a estações de metrô, como Tietê, Barra Funda e Jabaquara. E, quando não havia metrô, muito menos esses terminais que o tempo já começou a maltratar? Bem, naqueles idos distantes dávamos tchau a nossos pais, pela janelinha do ônibus, nas movimentadas e acanhadas plataformas da antiga Rodoviária de São Paulo. O complexo ficava na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Praça Júlio Prestes, em frente à Estação Ferroviária Sorocabana, também batizada oficialmente com o nome de Prestes, ex-governador de São Paulo que ganhou a eleição presidencial de 1930 mas não levou, impedido pela Revolução comandada por Getúlio Vargas. Ali, onde milhares de malas carregadas pelos viajantes dominavam a paisagem, funciona hoje um centro comercial popular. Nada contra que trabalhadores honestos ganhem o pão de cada dia vendendo roupas ou badulaques variados em stands adaptados aos antigos guichês das companhias, bares e outros serviços da finada estação. Mas a alteração drástica no perfil das pessoas que circulam por aqueles quarteirões contribuiu, ao lado de diversos outros fatores, para acentuar o processo de decadência da região. Pontos de parada de ônibus, trens e aviões são, por excelência, locais de alta voltagem humana. Haveria algo mais característico de um grande centro urbano do que gente que vai e vem, o tempo todo, alguns sorrindo, outros chorando? Foram-se os ônibus e com eles as expressões variadas de quem chegava e saía, o movimento incessante, a estrutura de comércio e serviços em torno dele –-barraquinhas de comida, táxis, vendedores ambulantes de jornal. Em certo sentido, aquela região da cidade morreu para todos os que já não têm por que freqüentá-la. Dois anos atrás, a criação da Sala São Paulo, aproveitando parte da Estação Júlio Prestes, esboçou um movimento de revitalização daquele espaço urbano. Tímido ainda, mas significativo. Agora, o projeto São Paulo é um Espetáculo, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, chama novamente a atenção dos paulistanos para a região, que inclui outras peças do patrimônio arquitetônico e artístico da cidade, como a Estação da Luz e a Pinacoteca. A TV Globo põe no ar, nesta semana, uma peça promocional de apoio à campanha. Se ela vingar, pode ser que o rico catálogo de rostos da cidade volte a dar sinal de vida por ali, agora dispostos a embarcar em outras viagens. (25/11/2001) Sérgio Rizzo é jornalista, professor universitário e não perde nenhuma edição do site Sampacentro
E-mail: srizzojr@uol.com.br

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending