Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.
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O instante detido em imagem
O fotógrafo ambulante dos jardins e praças públicas está quase desaparecido atualmente. A capacidade de improvisação deste ofício popular e um tanto intuitivo foi superado pelas facilidades tecnológicas e pela pressa de registrar o instante em forma de imagem. Mas apesar das condições adversas para esses profissionais, o fotógrafo Fefé resistiu e desde 1945 faz retratos no Parque da Luz.
Fefé iniciou a atividade aos 12 anos, fotografando casamentos e batizados. A primeira câmera foi comprada na Avenida Ipiranga e pelos cálculos do fotógrafo custou 500 cruzeiros. "Eu trabalhava com mais dois colegas, o Antonio e o Sabiá. Todos eram lambe-lambe e tinha muito trabalho para os três", recorda Fefé.
O trabalho de todo fotógrafo lambe-lambe dependia de uma luz intensa, o que denotava que a presença de um deles no parque era uma referência de sol. Fefé explica que o Parque da Luz nos anos 40 e 50 não tinham grades e que as famílias vinham nos finais de semana para fazer piqueniques.
Assim como relatou Fefé, a fotografia produzida pelo lambe-lambe quase sempre refletia uma ocasião especial: reuniões familiares, encontros de casais apaixonados, retratos no dia de aniversário, feriados, reunião de grupo de amigos, viagens, entre outras ocasiões. No entanto, muitas pessoas procuravam o lambe-lambe para tirar retratos para documentos do tipo 3x4 centímetros. "Eu sempre improvisava um lugar bonito para fazer os retratos. Tinha muita gente que me procurava".
Hoje Fefé é o único fotógrafo no Parque da Luz. A caixa de madeira apoiada num tripé foi substituída por equipamentos mais modernos: a Polaroid e uma Olimpus. Apesar de não ter muitos retratos para fazer, Fefé não quis sair do parque nem abandonar a profissão. "Esse é o melhor lugar de São Paulo para fotografar e o que mais gosto de fazer na vida", define.
Lambe-lambe: origens do nome
Existem algumas versões que explicam a origem do termo lambe-lambe. O historiador Boris Kossoy, em ensaio O Fotógrafo Ambulante - a história da fotografia nas praças de São Paulo explica algumas delas. Segundo alguns, lambia-se a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão. Outros diziam que se lambia a chapa para fixá-la. Porém, a origem mais viável parece estar ligada ao processo da ferrotipia. Depois de feita a revelação, o fotógrafo lambia a chapa de ferro coberta por uma camada de asfalto, fazendo com que a imagem se destacasse do fundo preto asfáltico pela ação do cloreto de sódio presente na saliva. (14/11/2001)