Olhar forasteiro
Lembro quando conheci São Paulo em 1992. Tinha 14 anos. Tudo era novidade. Imagina um sujeitinho brasiliense, acostumado a enxergar árvores, grandes gramados por todo o lado e o horizonte com frequência, ficar mirando embasbacado para cima feito um caipira, impressionado com a altura dos prédios de São Paulo. Tudo aquilo era inédito, fascinante. Sem dúvida, deslumbramento à primeira vista. Sem contar aquele monte de gente andando em um desespero ímpar. Pareciam robôs. Robôs com destino, mas, ao mesmo tempo, sem destino. Vítimas indefesas do incessante relógio.

Freqüentemente, ouço paulistanos que condenam esse encantamento que senti. Não é difícil ouvir: “ Tá louco, mano? Como é que você gostou disso? Se pudesse já tinha me mandado daqui”. O engraçado é que, às vezes, pareço um defensor da bandeira dos outros. Bandeira essa que os outros não defendem. E não se pode falar que há puro desprezo no comportamento dessas pessoas. Muitas delas passaram a repetir automaticamente o que a maioria fala e lembra quando se trata de São Paulo e do seu Centro. Sujeira, confusão, prostituição, camelôs e assim vai. Não pairam dúvidas sobre os inúmeros males do Centro. Não se quer aqui negá-los.
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