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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 24.02 ºC, São Paulo

Estilingue e bola de gude

Do lado esquerdo do campo, Santi rolou a bola para Paulo, que deu um toquinho e levou a redonda para o ar. Antes que ela caísse no chão, Santi chutou direto no ângulo. Um golaço. "Meu time ganhou o campeonato da escola naquele ano", comenta o palmeirense Fernando Santi, 18 anos. "Meu negócio é armar a jogada", diz o lateral direito, quando o assunto é futebol de campo. "Mas também brinco de salão, no gol". A paixão pela bola tinha sido descoberta algum tempo antes, no Largo do Arouche, onde ele passou uma parte da infância e da adolescência, totalizando sete anos. Foi lá o campo dos primeiros passes. E também das estilingadas. "O zelador do meu prédio fez um estilingue e me deu de presente", recorda. "Eu morava no terceiro andar de um prédio no próprio Largo. Costumava ficar na janela atirando bolinhas de gude nos bojões do caminhão de gás", diverte-se. "Ninguém sabia de onde vinha o barulho. Só que uma vez eu errei o alvo e atingi o vidro do caminhão. Foi caco pra tudo quanto é lado!" Quando sua mãe viu a movimentação na rua, já sabia que era "coisa do Fernando", que já cortou dois tendões do braço direito em uma porta de vidro e machucou o dedo mindinho da mão esquerda em outra ocasião. Quando não está no jogo, Santi, como é conhecido pelos companheiros de futebol, está arrumando uma peça nova para completar seu Fusca 72, de cor preta, de estimação. O plano agora é refazer o motor. "O motor original é um ponto seis e tem aumento de taxa de compressão e carburação feita. O que vou fazer agora é um turbo e aumentar a cilindrada", diz, explicando que o carro vai ficar mais potente. Mas os campos e pistas agora são outros. Há cinco anos Fernando trocou o Centro pelo Jardim Bonfiglioli, onde mora com a família. Mas ainda guarda as recordações dos campeonatos da época em que estudava no Bonie Concigli, na Barão de Limeira, ou no colégio Piratininga, próximo ao Minhocão. "Repeti dois anos porque só pensava em jogar bola", comenta, lembrando de quando fazia parte do time do Stuttgart do Bom Retiro. Quem ouve suas histórias não acredita que esse menino é capaz de ficar horas sentado em frente a um computador tendando descobrir qual o problema da máquina. Ele trabalha no suporte aos usuários e na manutenção dos equipamentos em uma empresa de importação. Mas vai deixar os amigos com saudades em breve: Fernando quer parar de trabalhar por um tempo para poder se dedicar aos estudos. "Vou prestar vestibular pra engenharia mecânica. Quero vir com 10 em todas as matérias no final do ano", diz. (15/10/2001)

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