O kitsch invadiu o Centro
O que um sapato de salto prateado, uma sacola da Zoomp, uma caveira inflável e um pingüim de geladeira têm em comum? Aparentemente, nada. Mas com um olhar mais atento é possível perceber que eles fazem parte de um mesmo movimento artístico, o kitsch. E mais: todos estão expostos na mostra “Viva o Kistch!”, no Masp Centro até 20 de dezembro.

O artista plástico/fotógrafo/ex-jornalista Olney Krüse é o maior entendedor do assunto no Brasil e é o pai da exposição. Em 47 dias, ele organizou toda a mostra e, ainda mais difícil que isso, doou para o Masp as mais de 1500 peças expostas. Sim, todas elas faziam parte de sua coleção pessoal. “Não tenho filhos e há algum tempo comecei a pensar: quem vai tomar conta de tudo isso?”, diz Olney explicando o motivo pelo qual decidiu doar tudo ao museu. “Foi muito duro, minha casa ficou vazia, já tive duas fortes crises de choro”.
Olney começou a colecionar objetos kitschs em 1965, quando trabalhava no departamento jurídico da Gessy Lever, onde, aliás, era vizinho de mesa do então desconhecido Gilberto Gil. “A Gessy fez uma camapanha com a D. Ieda Vargas e ela aparecia em um display segurando uma pasta de dente. Aquilo me chamou tanta atenção que eu levei pra casa.” Foi o primeiro objeto da coleção kitsch do artista.
A partir daí, Olney não parou mais. Para ele, o kitsch está em todos os lugares e é a única forma de arte verdadeiramente democrática. “Ninguém tem um Picasso em casa, mas todos nós temos uma reprodução pregada na parede da sala”, diz. Sendo assim, não é preciso andar muito pra dar de cara com algo kitsch. Olney que o diga. Em sua coleção, tem de tudo um pouco, ou melhor, um muito: de bottons e canecas estampados com “I coração NY” a discos dos Paquitos, passando por um despertador em forma de galinha, uma família de sapos de cerâmica e Branca de Neve com seus anões.
Com tanta variedade, foi possível criar na exposição vitrines exclusivas para alguns ilustres personagens kitschs. Marta Suplicy foi uma das homenageadas por Olney. Na seção dedicada a ela, muitos sapatos de salto alto, capas de revistas mostrando o estilo da prefeita, símbolos do PT, bandeiras de São Paulo, uma almofada de oncinha e outros objetos que remetem à face kitsch de Marta.
Mas as verdadeiras estrelas de “Viva o Kitsch!” são Elvis Presley e Marilyn Monroe. Eles não foram homenageados apenas com vitrines, mas sim com verdadeiros altares. O de Marilyn ocupa uma parede inteira. Cheio de fotos, cartazes, almofadas de pelúcia e dezenas de outros objetos que lembram a artista, a maioria deles, rosa – a cor ícone do movimento kitsch.
Depois de passar pela geladeira com o casal de pingüins e se surpreender com uma vassoura inteirinha cor-de-rosa fica a impressão de que Olney não esqueceu de nada ao abrir sua coleção para o público. Talvez, apenas de uma explicaçãozinha sobre o significado do kitsch. A falta, no entanto, deve ser creditada à dificuldade de explicá-lo por meio de palavras, sendo mais fácil descobri-lo nos objetos da mostra.
Olney costuma definir o kitsch parafraseando Picasso. “Ele dizia: Tudo é mentira, a arte é o que menos mente. Eu digo que toda arte é mentira, o kitsch é a que menos mente”, filosofa. O artista adorou o fato de sua valiosa coleção estar no Centro. “Passei minha infância e adolescência aqui, no tempo em que as ascensoristas usavam luvar brancas!”.
Mas Olney está há mais de um mês longe da sua – agora do Masp – coleção e diz ainda ser muito cedo pra dizer se vai continuar a juntar objetos kitschs ou não. Mas confessa que há alguns dias comprou dois imãs de geladeira feitos de resina com as inicias de seu nome. “Estava andando pelo Centro e vi o “O” e o “K”, não resisti. Mas é o primeiro e o último”. Por enquanto...”, completa. (30/09/2001)
Serviço:
Viva o Kitsch!
Até 20 de dezembro
De segunda a sábado, das 11 às 17 horas
Masp Centro – Praça do Patriarca, s/n, Galeria Prestes Maia. Tel: 283-2585
Ingressos por 4 ou 2 reais (estudantes). Grátis para maiores de 60 e menores de 10 anos
Saiba mais sobre a mostra no site do Masp