O guia natural

Na tarde daquele sábado, o cenário é o Parque da Luz, cheio de crianças coreanas desenhando e de velhinos passeando. Ah, e de pessoas que participavam do Fotosp fotografando área, lógico. De repente, um senhor se aproxima e não pára mais de explicar os segregos do Parque. Da árvore mais antiga à reforma recente que mudou sua cara. “Esse lugar é conhecido como Ilha dos Namorados. Ali é o aquário subterrâneo. O chão que vocês estão pisando deveria ser de asfalto, mas o Pitta (ex-prefeito de São Paulo) botou pedrinha e usou o dinheiro pra gastar com a namorada dele”.

"Com tantas informações, ele só pode ser o guia do local, certo? Não. Ou pelo menos não oficialmente. Nilton Pereira é vizinho do jardim da Luz, mora há mais de 40 anos no Bom Retiro. Pra ele, o Parque é como se fosse seu próprio quintal. Quase todos os dias ele passas as tardes passeando por lá, sozinho ou em companhia de seu netinho de dois anos. “Não venho todos os dias porque sou aposentado e aposentado não tem tempo pra nada...”, brinca. Seu" Nilton foi funcionário da escola Mackienze até cinco anos atrás. Hoje, ele dá uma de marceneiro, mas não profissionalmente, “só pros amigos”. “Outro dia uma vizinha me pediu pra reformar um móvel, não tem como falar não, né? Eles contam comigo”, diz com uma ponta de orgulho. Além das madeiras, outra de suas paixões é viajar. “Conheço um monte de lugares no Brasil, mas minha viagem preferida mesmo foi a das quatro bandeiras, que visitava três países fora o Brasil: Argentinha, Paraguai e Uruguai.” Aliás, histórias de vida é o que não faltam pra Nilton. Daria pra passar uma tarde – debaixo de uma árvore – ouvindo os causos dele e, logicamente, os do Parque da Luz. Mesmo porque os dois se misturam de tal forma que falar de um sem citar o outro parecer ser impossível para Nilton, o “guia” do Parque. (25/09/2001)