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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Se ainda der tempo, salvem o Bijou

É possível que você tenha lido algo nos jornais ou na Internet e, mesmo assim, não tenha dado muita bola ao assunto. Vamos refrescar a memória dos esquecidos ou contar a má notícia para quem ainda não sabe: o Cine Zip.net Recriarte Bijou será obrigado, muito provavelmente, a encerrar suas atividades. O patrocínio que bancou a reforma e manutenção da sala foi-se embora e, pelo andar da carruagem, parece difícil que surja o dinheiro necessário para manter suas portas abertas.

Pena, pena. Na semana que se encerra, era possível assistir ali a três filmes bem distintos, todos valendo cada centavo dos seis reais cobrados pelo ingresso: “Amor à Flor da Pele”, de Wong Kar-wai, “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís Bodanzky, e “Labirinto de Paixões”, de Pedro Almodóvar. Programa legal. Mas, com todo o respeito pelos atuais administradores, é preciso lamentar --e, se possível, evitar-- o desaparecimento de um espaço que viveu no passado dias bem mais gloriosos. Antes de explicar, um preâmbulo para as novas gerações, acostumadas com o videocassete na estante, locadoras como a 2001 e a Blockbuster na esquina de casa e uma dúzia de canais especializados em filmes na TV por assinatura. Nos distantes anos 70, nada disso existia, de modo que a única maneira de assistir a filmes, descontada a fraquíssima programação dos canais de televisão de sinal aberto, então os únicos disponíveis, era mesmo nos cinemas. Mas o que fazer se você nem era nascido, ou ainda engatinhava, ou não tinha idade para burlar a censura, quando alguns daqueles títulos que chamamos de imperdíveis foram lançados por aqui? Aí entravam espaços como o Bijou e suas antigas duas salas, uma ao lado da outra. Quando as conheci, eram não só acanhadas, mas já um pouco decadentes. Pouco importava: graças a seus ciclos, pude ver ali algumas preciosidades, como vários filmes de Ingmar Bergman (me lembro bem de “O Ovo da Serpente”) e de Woody Allen (“Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, por exemplo, foi uma descoberta extremamente prazerosa). Difícil descrever a sensação de entrar em uma sala e acomodar-se na poltrona sabendo que, em poucos minutos, lacunas sentimentais no currículo da gente seriam preenchidas e, duas horas depois, você sairia à rua diferente de como entrou. Chama-se a isso, tecnicamente, de formação e renovação de público. Sem espaços como esse, nada de formar ou renovar. Perdem-se espectadores. O Bijou fechou, mais tarde reabriu, com uma única sala, e agora pode desaparecer de novo. Nesses últimos 25 anos, a região da Praça Roosevelt entrou em acelerada decadência, e talvez seja mesmo difícil convencer as pessoas a sair de casa para uma sessão de cinema ali, sem o conforto e a suposta segurança dos shoppings ou de salas com melhor localização. No fundo, o azar é todo nosso. Cidades que não valorizam o Centro, e tudo o que ele abriga, dizem muito a respeito de seus governantes e, por que não, de seus cidadãos. (16/09/2001) Sérgio Rizzo é jornalista e professor universitário. E-mail: srizzojr@vento.com.br ******************** Nota da redação do Sampacentro: Felizmente, o Cine-Teatro Bijou ainda tem fôlego para mais um ano. Em outubro, começam as parcerias com algumas companhias de teatro. O cinema vai ser deixado um pouco de lado, com sessões mais no começo da semana, para privilegiar o espaço locado pelas trupes. Mas o local continua à busca de patrocínio. Quem tiver sugestões ou quiser “adotar” o Bijou ligue para Fausto no tel. 257-2264. Nossa memória agradece.

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