Chuva de fotos

Fazer chover. É esse o objetivo do fotógrafo Iatã Cannabrava, que coordena o projeto Foto São Paulo. “Claro que cada um usa a água de que dispõe. No meu caso, é a fotografia. Quero transformar as coisas através das imagens”, explica. A história remete à época de uma grande queimada em Rondônia. “Lembro ser criança e ter lido essa notícia num jornal. Não chovia e o fogo estava se alastrando. Nada conseguia apagá-lo. Foi quando uma tribo local se reuniu e fez chover da maneira tradicional, com seus rituais. O fogo acabou”, conta.
E continua: “Quero reacender uma espécie de amor próprio do povo paulistano. Algo que foi perdido, após a década de 40 e 50, que merece ser retomado. Quero fazer Macunaíma se orgulhar de ser brasileiro”, fala, se referindo ao personagem-símbolo de Mário de Andrade.
“Megalomaniacamente”, como Iatã mesmo define, quer reunir cerca de 5.000 pessoas para a “foto oficial”, marcada para as 9h do dia 15 de setembro na escadaria da Estação Júlio Prestes.
“Distribuiremos dicas de roteiro e coletes para a identificação dos participantes. Quero usar o final de semana para fazer uma manifestação cívica, em que o clique vai ser a palavra de ordem”, diz.
Qualquer pessoa pode se inscrever para participar da maratona fotográfica, basta ter uma câmera. Alguns profissionais darão workshops (Claudio Edinger vai fotografar o Vale do Anhangabaú, Ed Viggiani vai explorar o Minhocão e Marlene Bergamo vai desvendar os mistérios do Edifício São Vito, o cortiço ao lado do Mercado Municipal).
Todos os inscritos podem enviar uma única foto para participar de uma exposição coletiva na Estação da Luz, de 6 a 28 de outubro. As inscrições vão até o dia 4 de setembro e podem ser feitas pelo site do evento: www.fotosite.com.br/fotosaopaulo.
“A fotografia talvez seja uma forma de traduzir essa babel de linguagens do Centro e de entrar um pouco mais na intimidade desse gigante. O Centro é a bola da vez. É o ícone do momento no processo de revitalização.”
Fotografando a cidade de uma maneira “maluca, apaixonada, sem se prender a um só assunto”, Iatã montou sua primeira exposição de fotos chamada “20 Ver”. “Aos 16 anos, me perguntavam o que eu queria ser e eu respondia que era fotógrafo. Vinte e dois anos depois, ainda posso responder com a mesma convicção que é o que eu quero fazer”, assegura.
Já fez de tudo por uma foto: apanhou, correu de guarda, caiu de moto: “É o momento que define a foto. Eu, de moto, representava um pouco o que faço na fotografia, que é estar sempre em movimento, buscando novas coisas”.
Ao final, sorri com a minha pergunta. “Por que fotógrafo tem nome esquisito?”, questiono de uma forma mais estranha do que a questão em si. Ele me diz que seu nome vem do tupi-guarani. “É uma fusão de duas palavras: iara, que quer dizer senhor ou senhora, e tupã, todo-poderoso.”
Seu nome também revela um pouco da ambição de seu projeto. Tomara que chova. Fotos, claro. (20/08/2001)