Crônica de uma volta anunciada

Quase chorei. Esse é o fato. No caso de você aí, leitor, ser alguém muito ocupado e quiser parar de ler, a notícia é essa. Falta o contexto. Talvez eu ande emotiva demais. Descompensada. Em outra sintonia. Com fuso diferente. Mas é apenas um talvez. Porque o fato já foi revelado na primeira frase. Chorei, ou melhor, quase chorei. Fui a Portugal, de férias. Para voltar, escolhi Madri, na Espanha. Na ida, imagens da cidade onde íamos aportar: Lisboa. Quando digo "íamos", quero dizer os outros passageiros do vôo, pois eu viajava desacompanhada. Na volta, não poderia ser diferente, poderia? Mais cenas da cidade em que iríamos desembarcar: São Paulo. Foi quando tudo aconteceu. A minha São Paulo apareceu estampada naquela TV. A minha Pinacoteca. A minha Estação da Luz. O meu Centro. O meu Copan. Como numa espécie de boas-vindas. E, mesmo o avião estando cheio de turistas estrangeiros e estes já estarem preocupados com a chegada, tive a impressão de que todos os passageiros pararam para ver aquelas imagens. Meus olhos se encheram d’água. Olhei lá fora: a cidade, ainda às escuras porque eram 5h da manhã, borbulhava e me esperava. Ou pode ter sido apenas saudade. (16/08/2001) Lúcia Valentim Rodrigues