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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Pindura às avessas

Desde 1828, um ano após a criação dos cursos jurídicos no Brasil, todo dia 11 de agosto é a mesma história: estudantes de direito de todos os anos saem pelos restaurantes da cidade e almoçam ou jantam (ou os dois) de graça. "Na faixa", como eles dizem hoje.

A tradição começou com os estudantes da São Francisco e se espalhou por todas as faculdades. No início, o ato era visto como uma comemoração, e os próprios donos de restaurantes convidavam os estudantes para uma refeição grátis. Com o passar dos anos, os convites foram diminuindo e hoje muitos estabelecimentos se negam a aceitar a pindura. Este ano, a Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados (Abredi) tomou uma atitude drástica contra os estudantes, distribuindo cartazes combatendo a prática. A justificativa é que a comemoração virou bagunça e não é condizente com a situação atual do país. Os alunos integrantes do Centro Acadêmico da São Francisco, o XI de Agosto, também pararam para pensar nessa incoerência. Em plena época de recessão, apagão, alta do dólar e desemprego, seria justo estudantes (na grande maioria bem endinheirados) comerem sem ter de pagar a conta? Gustavo Bambini, coordenador do CA, acredita que não, mas respeita os estudantes que mantêm a tradição da pindura. Ele foi um dos organizadores do sopão que foi distribuído aos mendigos no último sábado. Para Gustavo, que está no quarto ano, “o sopão é uma atitude solidária dos alunos da São Francisco e deve inaugurar a pindura social do XI (CA)”. Ele afirma que a ação solidária deve continuar nos próximos anos. O evento aconteceu pela primeira vez esse ano e marcou um ciclo de debates realizados pelo Centro Acadêmico para discutir com profissionais renomados problemas como a pobreza. Mais de 30 quilos de carne e 50 de legumes foram usados para fazer o sopão. Os próprios alunos viraram cozinheiros e, ao som de pop-rock, passaram a tarde picando cenouras, mandioquinhas, batatas, pedaços de músculos, cebolinha... A cozinha e todos os utensílios foram emprestados pelo “bandejão” da faculdade. No fim da tarde, na pracinha em frente à São Francisco, o que se via era uma longa fila de crianças e adultos moradores de rua salivando por um prato de sopa. Foram mais de quatro caldeirões e sorrisos tanto dos mendigos como dos estudantes, que ficaram satisfeitos com a idéia de inverter a pindura. (25/08/2001)

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