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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Memórias em branco e preto

Andar pelas ruas do Centro de São Paulo garimpando livros ingleses, franceses em sebos espalhados na região. Ou, então, procurar peças e equipamentos fotográficos na tradicional rua Conselheiro Crispiniano. Melhor ainda é voltar ao Itamaraty e saborear o famoso sanduíche de lombo acompanhado de um chopp. De um lado da porta deste restaurante, a presença de uma banca de frutas e do outro, uma bonbonnière. Os lugares lembrados por Eduardo Muylaert fazem parte dos pequenos prazeres que ele reserva para seus momentos de lazer quando volta à região central da cidade. “É como fazer uma viagem no tempo”, comenta. Calouro no curso de Direito do Largo São Francisco em 1964, Muylaert dedicou grande parte de seu primeiro ano de faculdade envolvido com a produção do Festival "O Fino da Bossa", apresentado no teatro Paramount. Porém, nem só de arte e canção viviam os estudantes da época. Em pleno regime militar, “eram freqüentes os tiroteios nos arredores da faculdade, na qual a presença da esquerda e da direita eram fortemente delimitadas”, recorda. Em 1969, a poucos passos de terminar a faculdade, Muylaert recebeu uma bolsa de estudos para iniciar a pós-graduação em Direito Público e Ciência Política na faculdade de Direito de Paris II, mais conhecida como Panthéon-Sorbonne. “Uma história marcante vivida em Paris foi o reencontro surpreendente com um veterano da faculdade lá. Durante os tempos de estudante, o veterano escrevia livros de poesia e tentou vendê-los para mim. Eu recusei a oferta dizendo que só comprava boa poesia. Então, ele deixou um exemplar comigo para que eu fizesse uma avaliação. Um dia, em Paris, fui apresentado por uma amiga a um estudante de medicina. E imagine que era justamente o poeta da faculdade. Ele ficou muito assustado, porque havia mudado o nome para viver escondido em Paris. Mas, seu maior medo era o livro de poesias, ele pediu que eu não mostrasse a ninguém. Se a poesia era boa? Não lembro”, conta. De volta ao Brasil, foi professor da Faculdade de Direito da PUC-SP e tornou-se famoso como advogado na área criminal. Foi também secretário da Justiça e da Segurança Pública no governo Montoro e presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, do Ministério da Justiça. Embora seja mais conhecido pela grande experiência como advogado, Eduardo Muylaert tem se dedicado cada vez mais à fotografia de paisagens urbanas em branco e preto, uma aptidão que o acompanha desde os 12 anos e que vem sendo registrada em fragmentos das cidades por onde já passou. Além de ter participado de inúmeros workshops, tanto nacionais como internacionais, esteve presente em menções honrosas de duas exposições internacionais, "Focus in your world (ECO 1992)" e "Les Transports", na França. Sua primeira exposição individual,"Transferências", aconteceu em 1993 no Bar do MIS – Museu da Imagem e do Som. Entre mais de uma dezena de exposições, Muylaert destaca "Tiras Compridas do Brasil" (Galeria Millan, 1999) e "Paris – Fragmentos 70/95" (Bar des Arts, 1995). O próximo projeto é o lançamento de um livro "O Espírito dos Lugares", uma reunião de fotos tiradas durante as viagens do fotógrafo pelo mundo.

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