Acordo de cavalheiros
As prostitutas do Bairro da Luz agora seguem algumas "regrinhas básicas", pelo menos dentro do Parque da Luz: cooperam com a segurança, não atentam ao pudor e até mesmo usam roupas mais "comportadas". As mudanças aconteceram depois que Fernando Domingos de Aquino Pereira, 29 anos, assumiu a administração do Parque, há um ano e meio.

"Quando cheguei já existia um canal aberto para comunicação com as prostitutas da Luz, criado graças ao trabalho que a pesquisadora e socióloga Nina desenvolve com elas. Nos apresentamos como a nova administração e explicamos que isso não significava que haveria exclusão social do grupo. Ao contrário, definimos que a idéia era promover a inclusão social das crianças, das excursões, dos idosos, do pessoal dos Jardins. Ou seja, deixamos claro que faríamos tudo para receber bem qualquer pessoa que quisesse conhecer o Parque", conta.
Para ele, o mais importante é não deixar que o nível de prostituição e tráfico fique insustentável. "Quem é do bem a gente mantém, quem é do mal a gente corta. Qualquer sinal de fumaça, de cafetinagem... a gente põe pra fora. É complicado lidar com a situação porque este é o espaço das garotas de programa, desde 1930, quando os prostíbulos da região do Bom Retiro foram fechados".
Fernando é formado em história e já fez curso de jardinagem – duas qualificações bastante úteis para administrar um parque. Em especial o da Luz, que tem quase 230 anos, sendo que, durante quase dois séculos, não recebeu os devidos cuidados e, agora, está sendo recuperado. A cooperação das garotas de programa é fundamental para manter um bom convívio entre os 3 mil a 4 mil visitantes que passam pelo Parque, somente no sábado - fora todos os outros que comparecem ao local nos outros dias da semana.
Para estimular essa agitação, Fernando disponibiliza o espaço para encenação de peças de teatros, jogos de capoeira, concurso de pintura para crianças (que ocorrerá dia 15 de setembro), apresentações de bandas (como Duda e os Moleques de Rua que se apresentarão dia 23 de setembro), Radio Taisso (ginástica originária do Japão que acontece de 2a à 6a, às 7h), e tantos outros eventos. O que falta agora, nos planos de Fernando, é a participação das Polícias Civil e Militar. Ele está movimentando uma ajuda do Conselho de Segurança para reforçar o policiamento com, por exemplo, uma ronda permanente.