Muito além do pas-des-deux
No palco, o balé é sempre um espetáculo. Tudo parece impecável. Música, fantasia, maquiagem, sapatilha. Coreografia perfeita, luzes, aplausos e, às vezes, até lágrimas. Mas o que está por trás de tudo isso? Como é o dia-a-dia dos que rodopiam nos palcos e encantam o público?

Nada fácil. Basicamente, suor e dedicação diária. E para ser um profissional da dança é indicado que se comece cedo. Na Escola Municipal de Bailado, mais de 700 crianças e adolescentes passam de duas a quatro horas por dia aprendendo todos os passos e posições do balé clásico.
Para ingressar no curso, que dura oito anos, é preciso passar por uma rígida seleção, que testa principalmente a capacidade física dos alunos. Os que passam devem ter em mente que uma boa parte do seus dias será tomada por frases como:
- Queixo pra cima, pernas flexionadas...
- Aí, olha o elástico da sapatilha torto.
- Coloca o braço na altura do umbigo, menina!
- Nossa, sua meia-calça está com um furinho aqui.
- Quero ver esse joelho beeeeem esticado.
- Nada de brinco, pulseira, relógio e nem cabelo caindo no rosto.
Além da própria aula de dança, os alunos têm matérias como história da arte, criatividade e musicalidade. “Queremos formar bailarinos completos, que além de dançar bem, tenham excelente percepção musical e artística”, explica Esmeralda Penha Gazal. Depois de fazer parte do Balé da Cidade por mais de uma década, ela é hoje a diretora da Escola Municipal de Bailado.
Com a postura e elegância que só bailarinos conseguem ter, Esmeralda está no cargo há nove anos e lembra com orgulho de seus ex-alunos. “Apesar de não termos nenhum vínculo com o Balé da Cidade, muitos que estão lá hoje estudaram aqui”. Conta ainda que a Escola mantém atualmente o Corpo de Baile Jovem, composto pelos alunos dos últimos anos. “Se tudo correr bem, nos apresentaremos no fim de setembro no Teatro Municipal", diz Esmeralda.
Desde que foi inaugurada, há 61 anos, a Escola de Bailado é mantida com verbas da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. Os mais de 700 bailarinos mirins não desembolsam um centavo com o curso.
Aliás, de todos esses alunos apenas 12 são do sexo masculino. Esmeralda conta, com uma certa tristeza no olhar, que apesar de vir diminuindo, o preconceito contra meninos que fazem balé ainda é muito grande. “Às vezes, eles nem contam que freqüentam a Escola”. Que sirva de incentivo a bela história de Billy Elliot , filme que concorreu ao Oscar de 2001. O menino que escondia as sapatilhas, pendurava luvas de boxe no pescoço e ia dançar, enfrentou dificuldades mas se transformou num grande bailarino. (16/06/2001)