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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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No ritmo da música

Em seu longa-metragem de estréia, a diretora Lina Chamie conta três dias na vida de um clarinetista, vivido por Fernando Alves Pinto. Ao seu lado, outro personagem se destaca: é o Teatro Municipal, cenário que personaliza o sucesso profissional e pessoal do herói na música.

“O filme tem uma relação amorosa com São Paulo. Tanto que são as longas sequências com panorâmicas sobre a cidade que marcam a passagem dos dias”, conta a diretora. Uma delas foi feita do alto do Copan, onde tem “todo tipo de gente”, segundo Lina, “desde a Rita Lee até o camelô lá embaixo. É realmente um clássico”. O longa mostra muito da cidade. Numa cena emblemática, o herói caminha lentamente pela Rua Xavier de Toledo, até chegar ao clímax, no Teatro Municipal. “A história --e o filme em si-- é universal, mas tem um carinho especial por São Paulo. Quando apresentamos o filme em festivais no exterior, a imagem da cidade despertou a atenção de muita gente. Emanou São Paulo, as pessoas ficaram enfeitiçadas pelo mistério da cidade.” Com estréia em São Paulo e no Rio com apenas três cópias, a diretora usou a poesia da imagem para se impor aos recursos tecnólogicos e ao pequeno orçamento de R$ 500 mil. Também por isso Lina trabalha com um jogo de luz interessante. “Na verdade, as cores marcantes do filme --o azul da solidão, no primeiro dia, o vermelho do desespero, do segundo, e o amarelo do sucesso, no terceiro-- foram feitas sem usar nenhum tipo de filtro. Só com luz natural”, explica. “E aproveitamos a luz de dentro do Municipal.” Rodado em duas etapas, em 96 e 99, consumiu cinco anos, por causa de um acidente grave no 12º dia de filmagem com o protagonista. “Decidimos esperar a recuperação do Fernando [Alves Pinto]. Quando voltamos, após três anos, o pessoal do Municipal tinha mudado. Mas continuaram ajudando nas filmagens e sendo muito simpáticos”, conta Lina, jurando que nenhum trilho arranhou nem um pedacinho de carpete sequer. A delicadeza só escapuliu em um episódio, em 96, e ainda assim sem querer. “Era uma cena meio mágica, um plano da escadaria do teatro, entrando pelo salão nobre. Tinha fumaça, para desenhar a luz no ar. É uma coisa difícil de fazer, porque precisa esperar a fumaça chegar ao ponto certo. De repente, entrou a coordenadora do espaço, dizendo que a gente estava ficando louco. Não podia usar fumaça e, após pedir mil desculpas, tivemos de resolver a cena com uma rajada de fumaça em um único take”, conta, rindo. “Tônica Dominante” explora não só a face do Municipal que o público já conhece, mas também os bastidores. “Acabou virando um espaço inusitado. Descobrimos muita coisa interessante, como a cúpula, que tem uma luz muito boa. Só tivemos de ajeitar as cortinas, naquelas janelinhas arredondadas, para dar o tom que queríamos.” A integração entre a produção e o espaço gerou alguns "causos". “Quando cada ator acabava sua parte no filme, todo o mundo aplaudia. E, quando acabaram as cenas do Municipal, que era um take só com o interior do piano e uma sequência de luminárias, aplaudimos também. A locação acabou virando personagem...”, conta. “Foi meu primeiro longa, e a feitura dele tem muito a ver com o discurso do filme, com a força que ele quer mostrar. Foi uma aposta, feita com muito carinho, por todos nós”, finaliza. (14/07/2001)

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