Lugar de torcida é no Centro

Sérgio Rizzo

É provável que no próximo domingo a torcida corintiana volte à avenida Paulista, semanas depois de celebrar ali a conquista do título paulista, para comemorar a vitória sobre o Grêmio na decisão da Copa do Brasil. Será a repetição de um ritual que as torcidas do Palmeiras e do São Paulo também adotaram como norma nos últimos 10 ou 15 anos: segue todo mundo para a Paulista, a pé, de metrô, ônibus ou automóvel particular, para um buzinaço que termina em concentração para as câmeras de TV em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero, altura do número 900.

Quem inventou essa história contribuiu, provavelmente sem perceber, para o processo de esvaziamento e desvalorização do Centro. Em todos as grandes cidades do mundo onde o futebol é um esporte popular, as torcidas fazem a festa nas praças e avenidas de maior significado histórico e cultural. O quartel-general dos franceses, durante a Copa de 98, foi a praça da Prefeitura, onde milhares de pessoas assistiam aos jogos em telões. As torcidas do Boca Juniors e do River Plate tomam o obelisco da avenida Nove de Julho, em Buenos Aires. A do Real Madrid banha-se nas fontes do Centro. Em Barcelona, vai-se para La Rambla e a plaça de Catalunya. A da Roma, que também no próximo domingo provavelmente comemorará o título italiano, lotará a piazza San Giovanni. Considerar que a Paulista seja o “cartão postal”, o “símbolo” ou coisa parecida de São Paulo é jogar quase cinco séculos de história no lixo em nome do poder da grana que se estabeleceu nessa avenida metida a besta. A revalorização do Centro, projeto eminentemente popular, precisa passar pelo futebol. Que corintianos, palmeirenses e são-paulinos unam-se ao menos em nome desse projeto comum: o Centro é do povo, lugar de festa é ali. Praças da Sé e da República, avenidas Ipiranga e São João, viaduto do Chá: não tem lugar melhor para gritar “é campeão!”. (16/06/2001) Sérgio Rizzo é jornalista, colunista de futebol internacional de “A Gazeta Esportiva” e também já foi algumas vezes à avenida Paulista para comemorar títulos do Palmeiras