Em quantas páginas se define o amor?

Quanto tempo você esperaria pelo amor da sua vida? Dois meses? Cinco anos? Florentino Ariza esperou cinqüenta e um anos por Fermina Daza. Os dois personagens principais de Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel García Márquez, Editora Record) são os instrumentos do autor para descrever o amor e a entrega que ele exige, e ensinar que envelhecer, às vezes, significa esperar um pouco mais pelo que se deseja. Quem ainda não leu o livro pode encontrá-lo na Biblioteca Mário de Andrade, que tem disponíveis cerca de 50 mil títulos sobre o assunto. Há apenas uma desvantagem: não se emprestam os livros. Mas mesmo assim, vale a pena dar uma olhada.
Seu namorado já te disse que te admira porque você gosta de brigadeiro? Que você é a “filha dileta de todas as mulheres” que ele amou? E que acha lindo você cantar tão desafinado que nem um mosquito consegue te ouvir? Ele já escreveu uma música para você? Se ele já fez tudo isso, você, além de uma felizarda, conhece a sensação de ler a crônica – que mais parece um poema sem versos – “Para uma menina com uma flor”, de Vinícius de Morais (Companhia das Letras). É uma declaração de amor incondicional, de entrega sem rodeios. O texto está no livro homônimo que conta outras histórias – não exclusivamente de amor, mas igualmente interessantes.
Agora, quem quiser conhecer a história de Carlos, que entrou na puberdade em um tempo em que os pais não só encorajavam, mas faziam a maior questão de que os filhos se iniciassem sexualmente tão logo começassem a dar os primeiros sinais de que estavam se tornando homens, não pode deixar de ir à biblioteca sem pelo menos dar uma olhada em “Amar, verbo intransitivo” (Mário de Andrade, Villa Rica Editora). O pai de Carlos contratou Elza, uma governanta alemã de seus 35 anos, para desempenhar a tarefa de ensinar ao menino a “arte do amor”, sem que houvesse envolvimento afetivo. Eles não se envolvem. Apaixonam-se mesmo. Aí, já viu...
Já no romance psicológico “Um copo de cólera” (Raduan Nassar, Companhia das Letras), uma jornalista e um escritor vão para o sítio dele passar um fim de semana. A história dos dois amantes é contada em forma de diálogos internos, sem muitas demarcações e, às vezes, com algumas frases emitidas de um para o outro, mas surtindo o efeito de uma bomba. A tranqüilidade do interior e a proximidade com a natureza é contrastada com as paranóias dos dois, que transformam o fim de semana em um pesadelo para eles e os que aparecem à sua volta. Quando menos espera, o leitor se percebe dentro de um jogo entre razão e emoção.
Ítalo Calvino definiu o livro “A Insustentável Leveza do Ser” (Milan Kundera, Companhia das Letras): “O romance nos mostra como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável.” Trata-se da história de dois casais que experimentam o amor, as dificuldades de comunicação e o (des)compromisso em relação ao sexo na Praga da década de 60.
O oposto dessa situação se apresenta em “O Amor Natural” (Editora Record) em que Carlos Drummond de Andrade fala explícita e poeticamente de sexo e descreve o sexo como um ato de amor e de entrega. O livro de poemas não fica só na metáfora; dá nomes a partes do corpo às vezes esquecidas ou escondidas pela literatura, mas sem “forçar a barra”.
Estas e outras histórias estão à disposição de qualquer leitor curioso na Biblioteca Mário de Andrade. Para quem quiser aproveitar a semana dos namorados para se inspirar, a biblioteca funciona de segunda a sexta, das 9h às 21h, e aos sábados, das 9h às 18h (fechada aos domingos e feriados). O endereço é Rua da Consolação, 94, tel. 3256-5270. (09/06/2001)