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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Sexta é dia de Green Express

Para quem ainda não conhece o Green Express, aceite como sugestão as noites de sexta-feira. Além do contagiante suingue do samba-rock e da loja de discos de Tony Hits, o Green traz somente uma vez por semana o sanduíche de pernil, uma especialidade de Jacó, o dono da lanchonete ambulante mais famosa dos Bailes da Nostalgia. Quem prepara todas as opções de “tira-gosto” é o próprio Jacó, a ali não falta nada para satisfazer o apetite do freguês. Tem porção de calabresa fatiada com cebolas na chapa, fritas, provolone com azeite e orégano, salaminho fatiado, frango a passarinho, kibe, coxinha e cachorro-quente. Jacó leva tudo temperado com alho, limão e sal e frita as porções na hora. “Mas o pernil tem um segredo para preparar. Eu geralmente compro no Makro, tempero na quinta à noite e levo no dia seguinte até a padaria da Cachoeirinha de um amigo meu para assar no forno à lenha. A carne fica derretendo, porque coze tudo por dentro”, explica. Antes de Jacó instalar sua lanchonete no fundo da pista do Green Express, a casa não oferecia ao cliente opção de comida para vender. Então, o dono da casa, conhecido como Marcão, resolveu suprir esta falta seguindo o conselho de seu antigo DJ Hércules. Este, por sua vez, indicou o cunhado Jacó, marido de dona Neuza, irmã de Hércules. A parceria deu certo, por isso o casal proprietário da lanchonete trabalha há seis meses no Green Express, vendendo muitos sanduíches de pernil para os clientes que se acabam na pista às sextas. Aos sábados, Jacó e Neuza preparam os comes e bebes em outra casa. “Depende do lugar onde a banda Mistura Fina faz seus shows. Acompanhamos a banda nos bailes e montamos a ambulante. O engraçado é que o sanduíche de pernil é o mais pedido em todos os lugares”, conta Jacó. Durante a semana, Jacó é mecânico, rotina que começa às oito na auto-mecânica Shalon, na Casa Verde. Sem horário para almoçar ou voltar para casa, o paulistano nascido na própria Casa Verde não reclama do excesso de trabalho. “Eu não me pergunto se gosto ou não de trabalhar. Se entra dinheiro é o que importa.” Casado com dona Neuza há quase 30 anos, teve cinco filhos, porém dois deles faleceram. “Um morreu recém-nascido e o outro com 24 anos, mas deixou uma netinha, a Tábata.” Os outros três moram com os pais e todos trabalham, às vezes, a família toda vai trabalhar no Green. Julio tem 24 anos, Anderson, 22 e Jane, 20. Jacó gosta de samba-rock, um termo que conhece como música de nostalgia. Para ele, Jorge Ben Jor até que é bacana, mas música boa mesmo é a do rei Roberto Carlos. Em especial aquela canção, “As Flores do Jardim da Nossa Casa”, uma das composições de um disco que Jacó presenteou dona Neuza quando a conheceu em 1971. No dia 24 de dezembro deste ano o casal vai comemorar 30 anos de casamento. Surpreendentemente, Jacó se revelou um compositor e, na época de seu 25º ano de casamento, compôs uma música para a esposa. Seguem alguns trechos de “Bodas de Prata”. “...Amor, você se lembra quando eu lhe dizia que depois de nós casarmos, já faz 25 anos e não nos separamos. Eu só peço a Deus que esqueça. deste negócio de nos separar. Já passaram 25 anos e ..." Esta canção tem um projeto especial para Jacó. Ele quer encontrar a família Lima para gravar a música e eternizá-la nas festas de bodas de prata. “Imagina só, não existe música em homenagem aos 25 anos de casamento. A minha seria muito conhecida, tocada nestes bailes, iria emocionar as pessoas.” Ao todo, são dez músicas de sua autoria. Duas com ritmo de carnaval, um samba e uma sertaneja. As outras ainda não tem melodia. Duas delas foram enviadas ao concurso que a Rede Globo promoveu há alguns anos. “Não deu certo comigo. Não entendo como aquelas músicas feias conseguiram ganhar o concurso”, lamenta. Porém Jacó não desiste facilmente de seus objetivos. Procurou o empresário de Bebeto, um músico famoso nas rodas do samba-rock, e entregou a ele quatro músicas para uma análise. Por enquanto Jacó não obteve resposta. “Paulistano que é paulistano deve conhecer e gostar do centro da cidade”. Desde os 11 anos, Jacó circula pela região central de São Paulo e conhece tudo por ali. Gosta de andar pelas praças e freqüentava a Praça da República quando existia a feira hippie aos domingos. Quando lembra do passado, diz que o Centro mudou muito e que hoje muitas casas estão destruídas, sujas e esquecidas. Apóia o processo de revitalização do Centro de São Paulo. “O Centro de São Paulo é um dos melhores lugares do mundo. É um lugar seguro, onde ando à noite e nada me acontece. É só andar por ruas iluminadas que não tem perigo. Quem anda no escuro deve estar é procurando encrenca.” O grande sonho de Jacó é ver os filhos estabelecidos na vida, já que da própria vida ele tira a letra e a melodia. (03/06/2001)

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