Folia no Vale Negro
Na entrada, uma governanta sinistra chamada Ágata (cuspa no chão ao falar o nome dela, porque todos fazem isso) recepciona a platéia. Sem piscar.
O alto da porta é enfeitado por uma cabeça de veado. Morta, claro. Há muito tempo, morta.
Mórbido? Espere para responder...

Você acaba de entrar em um galpão embaixo do Minhocão e visitará o Vale Negro, lugar amaldiçoado em que vivem um conde, sua afilhada e a tal governanta, rodeados por barulhos estranhos e bichos empalhados.
O cenário é simples, mas o dramalhão segura quase uma hora e meia de espetáculo. E você vai rir muito no Galpão do Folias.
O texto, de Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes, ganhou o Prêmio Moliére. Com direção de Dagoberto Feliz, o espetáculo estreou na sexta, dia 11, com a casa lotada.
Mas tudo isso começou há mais de um ano, na busca por uma sede. “O galpão foi como um sonho. Quando entramos, já sabíamos que seria perfeito”, conta Patricia Barros, integrante do grupo desde sua formação. Com concepção arquitetônica do cenógrafo J.C. Serroni, o espaço foi inaugurado no dia 14 de abril de 2000.
E, um ano depois, qual o balanço?
“Percebemos que o galpão tem uma missão além do teatro. Conseguimos humanizar um pouco as relações numa das regiões mais críticas da cidade. Voltar ao velho hábito de conversar, sabe?”, responde o diretor Dagoberto.
“E, durante as reformas para a adequação do espaço --que já tinha sido açougue, estacionamento e igreja evangélica--, até veio uma vizinha oferecer um cafezinho. O pessoal daqui se importa com o que está acontecendo ao seu redor”, continua Patricia.
“A Maldição do Vale Negro” veio muito depois, também como uma forma de não deixar o local vazio. “Depois de batalhar tanto, não podíamos simplesmente fechar o galpão enquanto trabalhávamos em um novo projeto”, conta Patricia.
Um dos novos projetos é “Pavilhão 5”, com uma dupla falando das diferenças entre uma professora que vira conselheira numa escola da periferia e um traficante que tenta aprender algo na vida.
E, para quem quiser continuar acompanhando as produções do Galpão do Folias, o próximo projeto já tem nome e data de estréia: “Babilônia” chega em outubro. Aguarde... (25/05/2001)
Serviço:
Galpão do Folias
Peça: “A Maldição do Vale Negro”
Texto: Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes
Direção: Dagoberto Feliz
Horários: sextas e sábados, às 21h30; e domingos, às 20h; até 28 de outubro
Endereço: Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília, tel. 3361-2223. 96 lugares.
Próximo ao Metrô Santa Cecília.
Quanto: R$ 15
Peça: “Pavilhão 5”
Texto e direção: Reinaldo Maia
Com: Fernando Paz, Gisele Valeri, José Roberto Sanchez
Horários: sextas, às 19h; sábados, às 20h; até 28 de julho
Quanto: R$ 15
E-mail: folias@sti.com.br