Peripécias de Frangonaíma

Ele é um “herói sujo”, como diria o poeta Mário de Andrade. Frangonaíma, o herói da resistência paulistana não podia ser diferente.

Criada pelos autores do espetáculo “Alma Paulistana em Lira & Cometa na Paulicéia”, a sátira foi inspirada no personagem do próprio autor, Macunaíma, também chamado de “herói sem caráter”. Mas, na peça-show, os vilões são outros. O defensor luta contra a falta de memória e a politicagem vigentes na cidade. José Luiz Adeve, ou melhor, Cometa, protagoniza e lidera do vocal as peripécias do show, que teve apresentação na última quarta (dia 23) na Biblioteca Mário de Andrade. Egelson Lira segura o ritmo no violão, e Eduardo Contrera fecha a banda, metendo bronca na percussão. As citações passam por Mário de Andrade (claro!), Adoniran Barbosa e até Pedro Vaz de Maminha, um funcionário público com escritório na Rua Xavier de Toledo. “Tentamos recuperar uma espécie de manifestação artística cultural paulistana. E o modernismo foi o único movimento que foi nessa linha, daí nossas influências”, conta Cometa. “Para nós, a Semana de 22 é mais bem representada por 22 jogadores de futebol, em que temos os titulares e os reservas, ou caras que podem comprar seus carrões e os sem-grana, os excluídos.” Com pouco figurino, que se mantém só com alguns chapéus e uma maquiagem simples, o espetáculo quer proporcionar um exercício de cidadania e respeito à cidade.“O brasileiro em geral --e o paulistano em particular-- tem de entender que é um comedor de rações culturais. O problema é que não fabricamos nem vendemos a nossa, com nossas ricas histórias, valores e personagens de rua.” Com texto baseado em livro homônimo de Otávio Augusto Santos e Cometa, é mais que um espetáculo musical, é também literatura, teatro, poesia e ironia. Cometa completa: “É São Paulo em gesto, notas, versos e prosa. O restauro do Centro tem de passar pela revitalização cultural do espaço. Por isso brincamos com mazelas da cidade, mas também a poetizamos”. Em junho, a Companhia Paulista das Artes programa apresentações na Escola da Vila e, em agosto, no Centro Cultural São Paulo. Em abril de 2002, são estão programadas as comemorações dos 80 anos da Semana de Arte de 22. “Vamos realizar o maior evento que nossas pernas permitirem: teatro, música, poesia, dança, artes plásticas, cinema. Todas as manifestações da arte e da nossa cultura”, diz o diretor Chico Lobo. E Cometa termina com uma palhinha do espetáculo em forma de oração: “Pai nosso que estais na São Bento, santificada e restaurada seja a Sé. Seja feita a vontade Ifigênia, assim na Líbero Badaró como no Largo do Café. O Anhangabaú de cada dia, nos daí hoje, perdoai as nossas pixações, assim como nós já pensamos em pular do Martinelli, mas não nos deixeis cair no Boulevard da São João, na hora de nossa morte, amém. O pão nosso de cada bairro, nos daí hoje um Bom Retiro, Luz - Estação sem tiros e não deteriorar a Júlio Prestes, assim como nós perdoamos àqueles da Barão do Triumpho, atrás da Cásper Líbero com muita sujeira no chão, também. O moleque de cada dia, perdoai as nossas ofensas e não nos deixeis cair na sarjeta ou andar na contramão. Amém”. (26/05/2001) Em julho, o espetáculo "Lira e Cometa na Paulicéia" ganha nova programação no Espaço Satyros (Praça Roosevelt, 214), às quartas e quintas, às 20h. Ingressos: R$ 5 a R$ 10. Mais informações: paulistadeartes@uol.com.br
Site: http://membro.intermega.globo.com/pauliceia