O Anúncio no Pátio
Era pra ser só a leitura de um texto em uma missa especial no Pátio do Colégio. Mas o conteúdo era tão vivo e profundo que resolveram encená-lo. Seria apenas por um mês. O resultado, porém, agradou tanto que "O Anúncio" está em cartaz há três meses e já foi encenado em Brasília.

Quem conseguir um lugar na concorrida lista de entrada, vai encontrar uma história que mostra a dor de enfrentar os conflitos que assombram a mente e o coração. O drama se passa com uma família do século 13, na Fazenda de Combernon e começa com uma decisão seguida de uma desgraça. O pai resolve partir em busca da sua função na sociedade e, pouco tempo depois, a doença que corrompe a carne assola a casa.
Mas talvez não seja o roteiro que chame mais atenção em "O Anúncio" e sim o casamento perfeito entre o contexto da peça e o local onde é encenada: a cripta da capela, construída no século 17. O ambiente é ideal, com todo o clima de mistério que o texto pede. Na cripta, escura e toda feita de pedras, já estiveram enterrados personagens importantes para a história da cidade, como o índio Tibiriçá. Como o lugar é pequeno, você fica a meio metro dos atores, ou seja, "dentro da peça" literalmente.
Para Lena Jotta, que vive Elizabeth, esse contato quase íntimo com o espectador é uma ótima experiência para qualquer ator. "Quando fomos para Brasília, a apresentação foi num teatro, imenso e muito bonito por sinal, mas o resultado não foi o mesmo. Faltou o clima e a proximidade da cripta", confessa a atriz.
A peça inaugurou o Projeto "Teatro no Páteo" e estará em cartaz até 17 de junho. Como a cripta só tem capacidade para 30 pessoas, só entra quem fizer reserva antes, pelo telefone 3789-0332. A atriz global Maria Fernanda Cândido estrela "Anchieta", próxima atração do Teatro que tem estréia prevista para fim de junho.
O escritor francês Paul Claudel criou "O Anúncio" em 1912, mais de vinte anos depois de ter se convertido católico numa missa de Natal na Catedral de Notre Dame, em Paris. Claudel veio ao Brasil em 1917, quando era ministro da representação francesa. Dizem que seu poema "O Angar de Deus" influenciou Oscar Niemeyer na concepção da igreja da Pampulha. É pena não ter conhecido o Pátio do Colégio nem sua cripta, o cenário ideal para expressar toda sua emoção religiosa e mística... (26/05/2001)