Palco de festa na cidade

Todo mundo fica sentado num banco de mármore. As pessoas se entreolham. Começa ou não começa?

Passa uma ascensorista. Um bombeiro. Uma criança. Pessoas visitam a instalação de Tunga no local. Aguardam. De repente, de uma sala lá atrás, sai um mordomo. Com dois band-aids na boca. Não fala nada. Apenas se aproxima. Pára. Na bandeja, um pequeno gravador reproduz sua vida. “Tenho dinheiro. Tenho motorista. Tenho manobrista. Tenho mulheres. Tenho hérnia”, dispara a máquina. Tem de tudo e, ainda assim, carrega uma cara de triste. Termina a gravação. Ele busca um novo ouvinte. Um homem chega ao lado de sua mulher. Faz uma surpresa com a nova casa deles. É esquisita, mas é chique. É vanguarda. É tudo. Eles discutem em clima de festa. É tudo também. Alguém está cantando “Parabéns para Você”. Vem do alto. Do segundo andar. Todos olham para cima. Um dueto de mulheres entoam a melodia. Outras se seguem. Nova briga. O mundo moderno. A high society paulistana. A hipocrisia humana. Uma mistura de fantasia e loucura. O mundo todo é louco, não é? “Você se conhece?”, um personagem pergunta para o público. “Eu me conheço”, ele se vangloria. Mas é mentira. Ou, como ele prefere transparecer numa pergunta rabiscada em um pequeno pedaço de papel rasgado: “Profundo ou superficial?”. Sei lá. Quem se importa com o outro? Tudo isso faz parte da peça “São Paulo É uma Festa”, uma série de esquetes baseados em textos do livro “São Paulo/Brasil”, de Fernando Bonassi, ainda a ser lançado (leia outros textos do autor no Sampacentro). Humor sarcástico. Pólvora em textos rápidos. Curtos. Curto-circuito em ebulição. O casal volta. Volta a discutir. A relação não é mais nada. Nenhum dos dois escuta. Outro casal se despede. Briga. Relacionamentos dão errado. “Por que você não volta?”, ele pergunta em agonia. “Eu lavei o quintal. Dei banho no cachorro. Até escovei os dentes. Agora é com você”, finaliza, enquanto um acordeão toca uma melodia triste. Ele sai. Todos saem. Não voltam para ouvir os aplausos. Que são muitos. Não voltam. Quem volta é o público. (19/05/2001)

São Paulo É uma Festa
Texto: Fernando Bonassi. Direção: Beth Lopes. Com: Isabela Graeft, Luis Carlos Rossi, Matteo Bonffito e Yedda Chaves.
Horários:
Quintas e sextas, às 12h, 14h, 17h30 e 19h; aos sábados, entre 17h30 e 19h; domingos, às 16h e 17h30. Até 27 de maio.
Endereço:
Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3600)
Quanto: Entrada franca.