Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.
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No miolo do calçadão
Quem mora em São Paulo ou pelo menos conhece a cidade, sabe que passar pelo "calçadão" fora dos horários comerciais não é nada recomendável. Mas não havia outro meio de alcançar o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil sem ser passando por lá.
No fim da tarde do dia 21 de abril o novo ponto cultural da cidade era inaugurado. No caminho para alcançar a esquina da Álvares Penteado com a Rua da Quitanda – endereço do CCBB – grupinhos de pessoas conversavam. Quem saiu ganhando foi uma lanchonete ali perto – única opção para quem quisesse comer ou beber alguma coisa. Quer dizer, também havia as sopas que estavam sendo distribuídas gratuitamente em pratos de metal, dentro do Centro Cultural.
As sopas faziam parte da instalação do artista plástico Tunga (apesar de ele preferir chamar de "instauração") que buscava reproduzir alguns elementos da Casa de Detenção do Carandiru, com diversos "performancers" fazendo as vezes de presos e tecendo "teresas" (cordas feitas de pedaços de cobertor utilizadas para fuga). O local estava escuro e era fácil torcer o pé nos cobertores espalhados pelo chão.
A trilha sonora – que misturava batidas do rap e de música eletrônica e falava da situação do Carandiru com muitas palavras que rimavam com "teresa" – foi assinada por Arnaldo Antunes, que estava entre os "presos". Vestia suas características camisa branca e calça de tergal preta, mas estava todo pintado. É, melecado de batom vermelho mesmo. “Ah, eu estou gostando, pra entrar no clima de verdade”, afirmou ele, todo agitadão, na saída do CCBB.
O ex-titã falou com o Sampacentro na inauguração do local e disse ter adorado conhecer o Centro Cultural de São Paulo. “Já conhecia o do Rio e agora tenho mais um pretexto para visitar o Centro da cidade”, disse Arnaldo. “Gostei do ambiente”.
No subsolo, o Museu da Pessoa - especializado em memória institucional e história oral - expunha seu trabalho realizado no Centro especialmente para o evento. Em painéis de tecido pregados na parede, imagens de locais e personagens da região acompanhados de trechos de depoimentos daquelas pessoas sobre os lugares. No cofre do prédio foi improvisado um estúdio de TV onde os visitantes poderiam deixar seus depoimentos. As declarações farão parte da memória institucional do Banco do Brasil.
No fim, apesar dos tropicões nas cordas, das manchas de tinta vermelha na barra da calça, do barulho ensurdecedor das colheres batendo nos pratos de alumínio, era preciso entrar no clima. E provar uma pratada de sopa. Por sinal, uma delícia! (06/05/2001)