Café com leite e Ramones

15 de abril de 2001. Para os fãs de rock, o domingo de Páscoa não teve gosto de chocolate. No dia da comemoração da ressurreição de Cristo, morreu o líder de uma das bandas mais importantes do estilo – a mais transgressora, que rompeu com os padrões musicais da época; aquela que deu origem ao movimento punk, influenciando bandas como Sex Pistols e The Clash.
Joey Ramone (pseudônimo de Jeffrey Hyman), ao lado de Johnny, guitarrista, e Dee Dee, baixista e vocalista, despontaram como “The Ramones” na cena musical nova-iorquina em 1974, quando tocaram no famoso clube CBGB (Country Bluegrass and Blues) de Manhatan, entre outras músicas, uma chamada "Judy Is a Punk". A banda definiria nestes primeiros shows a atitude musical e visual que viria a ser conhecida como Punk Rock. Mais tarde, Tommy Ramone entrou para o grupo e, como nenhum dos integrantes sabia tocar direito nenhum instrumento, não foi difícil mudar o line up da banda: Joey assumiu os vocais e Tommy ficou com a bateria. A banda terminou em 1996, depois de ter gravado "Adiós Amigos", o último álbum em estúdio e uma clara alusão à intenção de os membros se separarem.
A morte de Joey fez com que os fãs brasileiros tivessem de se conformar com a idéia de que agora é definitivo: os Ramones não voltam mais. Quem conheceu o músico de perto teve a oportunidade de se lembrar de algumas pérolas do rock’n’roll, como é o caso do jornalista André Barcinski. “Tive a sorte de conhecer o sujeito. Como todo mundo, acabei ficando amigo. Trocávamos e-mail sempre, visitava-o de vez em quando no apê pequeno da rua 9, impecavelmente limpo e decorado com pôsteres originais de shows dos anos 60 – Doors, Who, Hendrix, Stooges”, ele escreveu, em sua coluna semanal no El Foco.
“Durante a segunda turnê dos Ramones no Brasil, em maio de 1991, meu amigo André Forastieri e eu convidamos Joey para um programa na rádio Brasil 2000. Fomos pegá-lo no hotel depois da meia-noite, e o especial estava previsto para durar meia hora”, conta Barcinski. “Mas Joey se empolgou: tocou Stooges, Jane’s Addiction, Motorhead, Sweet, Clash, Buzzcocks, Beach Boys; contou histórias inacreditáveis de encontros com Marc Bolan e John Lennon; lembrou de shows em 76, enfim, foi uma daquelas noites que marcaram a vida de todos que participaram.”
A farra terminou às 7 horas, com um café da manhã no Centro da cidade. “Na época eu morava na Praça Roosevelt --onde fiquei durante um ano-- e o Joey Ramone estava hospedado no Hotel Hilton. Fomos juntos pro Centro e naquela hora não tinha nenhum lugar aberto”, recorda-se o jornalista. “Acabamos indo ao Café Floresta, que fica dentro do Copan.”
Deste dia, restaram as lembranças, as conversas e as músicas escolhidas a dedo por Joey, gravadas em algumas fitas cassete Basf, que agora se tornaram relíquias no arquivo pessoal de Barcinski. (27/04/2001)
Ramones por André Barcinski:Melhor música: Glad to see you goMelhor disco: Rocket to Russia (1977)Melhor show: Washington D.C., Club Bayon (set/1991)