Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Saias escocesas no castelo de Mary Stuart

“Senhoras e senhores, a sua boate Kilt tem o prazer de apresentar em seu palco a exótica Melca.” Uma mulher morena, de cabelos longos, vestida de odalisca sobe ao palquinho que fica no meio da boate e começa a dançar insinuantemente para os clientes da casa – grande parte já acompanhados pelas outras moças que trabalham ali. A Kilt – uma casa voltada ao público masculino – é comandada há 30 anos por uma mulher, Tania Maciel. Quem a vê, jura de pés juntos que ela está mentindo quando ela diz que tem 57 anos. Um corpinho de dar inveja a muita menina de 20. Quase nenhuma marca no rosto. Superarrumada, penteada, perfumada, elegante e suave. “Na academia (de ginástica), tem um garoto de uns 30 e poucos anos que está me paquerando. Ele jura que eu sou uma quarentona, não deve nem sonhar que já sou quase uma sessentona. Mas não dou bola para ele, não gosto de me envolver com rapazes muito mais jovens, sabe? Gosto de me relacionar com pessoas da minha idade. ” Ela fala com as mãos e, às vezes, ajuda com os ombros e a cabeça. Usa muito os olhos para prender a atenção do interlocutor. Tania abriu a Kilt em 1971, depois do fim de um relacionamento. “Estava querendo dar um rumo para a minha vida e comecei a pesquisar preços de imóveis para montar um estabelecimento. Tinha uma graninha guardada na poupança, algo em torno do valor de um carrinho. Queria que o local fosse na Augusta – o local mais chique e glamouroso da cidade na época –, mas ali a ‘luva’ (dinheiro pago por um bom ponto) era muito cara”, explica. “Logo, fiquei sabendo de um estabelecimento no Centro, uma lojinha de 50 m2 aqui neste mesmo endereço, e montei um barzinho aqui para happy hour, onde só eram vendidos drinks. Foi assim que tudo começou.” A empresária fez sucesso ali e, alguns anos depois de ter aberto o bar, acabou ganhando um prêmio como melhor vendedora dos whiskies Bucanas e Black & White. “Fui para a Escócia para receber o prêmio. Fiquei 22 dias andando pela Europa e, na Holanda, conheci umas casas de shows eróticos. Pensei ‘É isso!!’. Quando voltei, transformei meu bar em uma casa parecida. Fiz a parte de fora inspirada no castelo de Mary Stuart, que visitei quando estive na Escócia, e decorei as paredes internas com o tecido com que são feitas as saias escocesas – as 'kilts'. Daí o nome da casa.” Muitos nomes famosos já passaram por lá, segundo Tania: os atores Michael Douglas e Tom Cruise, o cantor e compositor Bob Dylan, o corredor Ben Johnson, o jogador de futebol Roberto Baggio. “Quando tem corrida de Fórmula 1, isso aqui é uma loucura! Todos os corredores vêm para cá.” Ela chega mais perto e cochicha: “Ah, também tenho muitos políticos como clientes, mas os nomes deles eu não falo de jeito nenhum, nem dos que já morreram!”. Jovens e velhos, brasileiros e estrangeiros, homens de diversos tipos e origens têm na casa um refúgio da rotina. Mas, para curtir uma noite na Kilt, é preciso estar munido de mais dinheiro do que para uma “balada” comum. Só para entrar são R$ 25 e não se paga menos de R$ 10 em uma bebida (a não ser um refrigerante ou água). Se o cara quiser sair com uma das moças, vai desembolsar mais – no mínimo – $ 100. Um freqüentador da casa, que não quis se identificar, define o motivo de um homem investir tanto em uma noite dessas: “Se o cara for a uma danceteria comum, ele corre o risco de ouvir um ‘não’ ou de ‘arrumar para a cabeça’, se for casado. Quem vem aqui paga caro, mas é bem recebido pelas meninas e acaba saindo com a sensação de ter conquistado alguém, sem o perigo de ela ligar no dia seguinte ou ficar cobrando”. Tania confirma que muitos de seus clientes são casados. É por isso que o movimento maior é de segunda a sexta. Mas há muitos freqüentadores estrangeiros também – e, com esses, quem acaba se relacionando mais são as meninas que falam inglês ou espanhol. “Uma coisa interessante que percebo é que o gosto varia de local para local. Os europeus, por exemplo, gostam mais de mulheres mais velhas enquanto os japoneses preferem as bem menininhas”, revela a empresária. As moças que trabalham na Kilt têm “20 e poucos anos”, com algumas raras exceções de 30. O que elas fazem depois? “Ah, elas tocam suas vidas, uma casa dali, a outra se junta de lá, a outra vai estudar. Sei de poucos casos de pessoas que decaíram mesmo. Uma ex-funcionária veio aqui outro dia. Muito bem-vestida, casou-se com um gringo. Trouxe presentes para mim e tudo, parecia uma madame!”, diz. (27/04/2001) Serviço:
Kilt
Horário: diariamente, das 22h às 04h (só fecha nos quatro dias de carnaval)
Rua Nestor Pestana, 266 – Centro
Tel.: 3258.7407
Entrada: R$ 25, com direito a um drink nacional
www.kiltshows.com.br

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending