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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 28.81 ºC, São Paulo

Deslocamento de sapos

”Penetrando o espaço de exposição, um espectador verá sob o banho de luz infravermelha três conjuntos de esculturas de ferro fundido ganhando vida ao serem humanizadas. Três personagens femininos darão carnação às formas pendentes. Notará também o observador que o piso é de cobertores, criando uma estranha pele para caminhar. Trêmulas luzes e um vapor aromático ocupam a periferia da grande obra. Sopas ali estão sendo preparadas: 21 conjuntos de curiosas baixelas implicam a cocção do alimento a ser degustado, vermelho e róseo, raízes. Vapor e trêmula luz podem atrair.”

Assim o artista plástico Tunga define o começo de sua performance, que acontece amanhã (dia 21) no dia da abertura do Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, às 18h. Serão 110 atores coordenados por Lia Rodrigues e vocais ao vivo de Arnaldo Antunes. Tunga dá o pontapé inicial no projeto Metro - A Metrópole em Você, espécie de reflexão sobre a relação da metrópole com seus habitantes, que abrange exposições, espetáculos musicais, mostras de filmes, intervenções públicas, peças teatrais e palestras. “O convite que me fizeram me permitia usar todo o espaço do CCBB. Mas como só tinha dois meses, não ia dar tempo –nem dinheiro. Aproveitei o convite para expandir limites do público e compus a exposição que será vista aqui. Será cheia de ‘personagens’”, antecipa com clima de mistério o artista. “É como um buraco na rua. Não é que você tenha de ignorar o buraco, mas tem de perceber que ele pode ser visto de outra forma, como uma intervenção no meio. É o que eu chamo de expandir limites.” Ele não gosta que chamem o que vai apresentar de instalação. Prefere o termo “instauração”. “Acho mais apropriado para definir algo que acontece, dinâmico, que aparece.” Também discorda da visão de serem três obras dele: “É mais do que isso e menos do que isso. É mais porque foi resultado do que aconteceu em outros lugares e tem a participação de outros artistas. Mas é menos que isso, porque eu acredito serem uma obra só”. Então o que é? “O que eu disser, a minha tradução desta exposição, não vai chegar em perto do que ela realmente é. Porque a arte trabalha com símbolos e não com signos. Olhe para aquela placa [e aponta para uma placa de não fume], aquilo é um signo, porque eu olho aquilo –um cigarro com um traço— e o significado se acaba. A coisa se esgota ali. Isso não é arte. Arte é algo mais, algo além, uma forma de pensamento, como um sonho também é uma forma de pensar.” E continua: “É uma performance que reúne mais de cem ‘personagens’ e vai modificar a própria estrutura das peças ali presentes. Vai misturar sinos de vidro, sombras, trilhas sonoras, nuvens sintéticas, um banquete, um vídeo que usa 50 quilos de sapos interagindo com atores e atrizes... Tudo isso para mostrar a cara do Brasil, a beleza e a monstruosidade, a Bela e a Fera do nosso país”, conta. “Porque, no fundo, os sapos já estavam aqui. Os atores também. Eu só fiz o deslocamento e a reunião deles”. Sobre o Centro Cultural Banco do Brasil diz: “Eu acho que este não é o lugar mais apropriado para arte e exposição. Mas foi o que me deram. E eu sempre acho um jeito, porque o lugar também faz parte da obra, ao mesmo tempo em que vai ser incorporada por ele”. Mas não acha que isso seja um problema do Centro em si, que ele acredita estar sempre fervilhando com novas idéias e novos tipos de arte. “A revitalização é um absurdo. Não há lugar no mundo mais vivo que aqui. O Centro tem uma imaginação inigualável. Vindo para cá, você pode sentir os camelôs, os sem-teto e toda a gente que tem de inventar para sobreviver aqui. É um espaço como nenhum outro. Não há outro lugar onde as pessoas tenham de ser tão inventivas e imaginativas quanto este.” Artista que despontou no início dos anos 70, Tunga já teve obras expostas em Veneza, Tóquio, Bélgica, Paris, Nova York, entre outras localidades. E dá sua agenda para o resto de 2001: um evento no CCBB de Brasília no final de abril, a exibição de uma obra na Bienal de Veneza em junho, participação na Bienal de Valencia (Espanha); exposições individuais no México em junho, em Paris e Londres em outubro. (Ufa!) Tunga faz um tipo estranho de convite ao espectador: “Trazer a arte ao público não é problema meu. É problema do público. Eu já resolvi a minha parte nisso. Faço performance na rua, na favela, na selva. Sei usar o meu espaço. É isso que tem de ser feito: aproveitar o que se tem ao redor, o que se tem na mão. O resto é com o público”. A exposição de Tunga fica em cartaz até 24 de junho. No dia 2 de maio, às 18h30, o artista faz uma conferência sobre a relação entre o indivíduo e a metrópole. (20/04/2001)

Serviço:
Centro Cultural Banco do Brasil
Horário: de terça a domingo, das 12h às 20h
Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3600.
Próximo ao Metrô São Bento e Anhangabaú
Saiba mais sobre a programação de inauguração no site www.metro.art.br.
Saiba mais sobre o espaço do CCBB em São Paulo no site www.cultura-e.com.br

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