Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Força na peruca! E no salto...

Elke Mulher Maravilha/ uma negra alemã/ um radar.../ um mar, uma pilha/
Elke Mulher Maravilha/ uma branca maçã/ avatar.../ um luar, uma ilha/
Elke Mulher Maravilha/ uma deusa pagã/ um sonar.../ um altar, uma trilha/
Elke Mulher Maravilha/ uma prenda Ogã/ um pilar.../ o ar, mãe e filha...
("Elke Maravilha"/ Itamar Assumpção)
Era um domingo, nosso primeiro dia no edifício Copan. Ainda estávamos nos acostumando com os vários blocos do prédio e os corredores sinuosos. Vimos, de longe, uma mulher alta e muito exótica, com uma roupa extravagante e uma farta peruca --tudo branco. Era Elke Maravilha saindo do Bloco B. "Meu costureiro, o Walério de Araújo, mora lá", explicou ela, alguns meses mais tarde, por telefone. "A gente já trabalha junto há muito tempo. Não lembro há quanto tempo exatamente, sei que é muito. Não me lembro nem de como o conheci." Walério é conhecido no mundo da moda por costurar para personalidades como Feiticeira, Dercy Gonçalves, Maria Alcina e Ana Maria Braga, além de realizar trabalhos para grandes griffes e eventos. Elke não sabe dizer quando começou a se vestir de maneira extravagante, diz que sempre foi assim. Nascida em Leningrado, Rússia, em 22 de fevereiro de 1945, ela veio para o Brasil com 6 anos, com seus pais, fugindo dos conflitos que aconteciam na Europa. Seu pai havia sido preso duas vezes e quase foi morto. "Quando chegamos aqui, fomos para a Ilha das Flores, onde ficavam todos os imigrantes em quarentena, aguardando o atestado de saúde e um emprego", lembra. "Meu pai conseguiu trabalho em uma fazenda, no interior de Minas Gerais e lá havia muitos negros. No começo eu morria de medo deles, nunca tinha visto um negro na minha vida. Depois, não só me acostumei como comecei a adorar aqueles cabelões das negras. Eu falava pra elas que elas tinham um cabelo maravilhoso e elas diziam que cabelo bom era o meu, fininho, lisinho." A fascinação foi tanta que ela acabou adotando o estilo. "Usava black power antes mesmo do negro." Ela costuma dizer que Elke Maravilha não nasceu, sempre foi assim. “Só que com a idade, estou piorando”, ri. Hoje, além de roupas extravagantes e coloridas, ela tem “não sei quantas” perucas de “todas as cores”, e cerca de 60 pares de botas. “Compro dois ou três pares por ano e elas duram muito. Depois de um tempo de uso, dou uma ‘maquiada’ nela e ela fica novinha. Por isso tenho bastante”, ensina. As cores também são várias: branco, verde, preto, vermelho, azul, roxo... Com um guarda-roupa tão eclético e farto, parece difícil optar na hora de se vestir. “Escolho a roupa de acordo com meu estado de espírito. O vermelho, por exemplo, é bom para paixão, é a cor da vida, do sangue. Já o preto, apesar de muito bonito, deve ser evitado em algumas ocasiões, como eventos espirituais, pois trava a energia”, explica a ex-jurada do Chacrinha e do Silvio Santos. “A melhor cor mesmo é o roxo, que purifica a alma, limpa o carma. Não é à toa que antigamente envolviam os mortos em tecidos desta cor.” Faz uma pequena pausa e acrescenta: “Mas de repente me dá na louca e misturo todas as cores e tudo bem!”. Quando vem a São Paulo, corre para a 25 de março, onde ela encontra “aquele monte de coisas bonitas para enfeitar a gente”. “Adoro aquela zona, aquela confusão, o contato humano, uma mistureba!”, explica. “No Rio nós também temos um ‘inferninho’ desse tipo.” Elke mora no Rio com seu marido, Sasha, que conheceu há sete anos. E, como muitos acontecimentos na sua vida, este também veio por acaso. "Um amigo em comum uma vez me disse: 'Elke, conheço uma pessoa que é a sua cara'. Eu respondi: 'Então me apresenta'. Quando nos conhecemos, combinamos tanto que nos casamos no dia seguinte." Durante a entrevista –-e até nos contatos anteriores que tivemos--, Elke mostrou que é o tempo todo o que ela mostra na televisão: sempre com um sorriso de orelha a orelha, delicada, muito bem humorada e paciente, até mesmo quando está acabando de acordar. "Nunca tive mau humor na vida, em nenhum momento. Acho que porque eu não tenho pressa para que as coisas aconteçam. Pra você ter uma idéia, levei três anos para andar." (12/04/2001)

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending