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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Mais seis horas, por favor!

- Você troca R$ 50?
- Tem Lancy?
- Me vê um Marlboro?
- Quanto é o jornal?
- Tem filme de 12 poses? Assim é o dia inteiro na Banca República, um vai-e-vem de perguntas e respostas, produtos e dinheiro. Mas Edson tira de letra. "Trabalho aqui há seis meses, mas já me acostumei com o movimento. Comecei a convite do dono da banca que já me conhecia porque era meu cliente", diz. Antes de ser jornaleiro, Edson já era distribuidor de filmes, pilhas e produtos do gênero para lojas especializadas, bancas de jornal e outros tipos de estabelecimentos. Todos os dias, inclusive aos domingos, Edson --que mora no Cambuci-– sai de casa às 4h30 para abrir a banca às 5h, quando já há movimento na Praça da República. "A essa hora as prostitutas estão voltando do trabalho. Às vezes elas param aqui para conversar. Falam que a vida está difícil, desabafam seus problemas. Acabo virando um conselheiro sentimental", revela Edson. Nem sempre as coisas são tão calmas assim, como ele mesmo revela: "Ontem mesmo havia um ambulante vendendo guarda-chuvas ali na entrada do metrô. Foi ele virar as costas por alguns segundos e outro ambulante chegou também para vender guarda-chuvas no mesmo local. Quando o primeiro voltou, foi aquele quebra-pau." Ele sabe mesmo é dos jornais e das revistas. "A gente tem que estar por dentro das revistas e dos jornais, pelo menos saber as matérias de capa porque os clientes vêm e perguntam: 'Sabe aquela revista com a capa tal? Você tem?'" Edson tem um cotidiano bastante agitado. Sai da banca às 10h para atender seus clientes até as 14h. Volta para a banca e só sai às 21h. "Chego em casa pregado, não tenho pique nem de ver filme, só quero dormir. Minha mulher e meu filho, que tem dez anos, reclamam bastante, mas o que eu vou fazer?" Ele jura que liga para o filho todos os dias e arruma um tempinho para acompanhar seu desempenho na escola, ajudando-o a estudos e fazer as lições de casa. Mas agradeceria se pudesse ter seis horas a mais no dia. (06/04/2001)

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