A Poderosa Chefona

Mesmo depois de um acidente, no qual fraturou três vértebras, Ruth Escobar não parou. Continuou tocando seu mais novo projeto: uma superprodução de R$ 2 milhões que conta a história das caravelas portuguesas na sua busca por novas terras. “Não pude resistir, ele é o maior poeta da língua portuguesa”, se derrete a diva por Camões. A dupla inaugura com “Os Lusíadas” a Estação das Artes, no Complexo Júlio Prestes.

Foi quase um bebê. Um bebê português. Demorou cerca de nove meses para nascer. Foram gastos cerca de R$ 2 milhões. O projeto envolveu 200 profissionais. No palco, são 53 atores, além de telões gigantes com participações especiais de Raul Cortez, Juca de Oliveira, Fúlvio Stefanini e Carlos Alberto Riccelli em vídeo. Os números não param por aí. Para conceder essa montagem, Ruth Escobar vai inaugurar uma nova sala de espetáculos, com 1.200 metros quadrados. O teatro vai ter lugar para 550 pessoas. O espaço, com arquitetura assinada por Ruy Ohtake, tem 50 metros de comprimento por 16 metros de largura e 15 metros de altura. Tá bom, chega de números. It’s showtime! O poema de Camões narra as viagens de Vasco da Gama em busca do caminho marítimo para a Índia. “Na verdade, eu me sinto a própria Vasco da Gama, descobrindo um novo espaço. Ou posso ser também uma espécie de Dom Corlione, um poderoso chefão da Máfia, aqui sentada nesta cadeira”, brinca a produtora Ruth Escobar, que desde o acidente é obrigada a se locomover por meio de cadeira de rodas. E por que montar Camões, séculos depois de sua obra-prima ter sido escrita? “Conheço este texto desde os meus 15 anos de idade. Sou apaixonada por ele. É onde são contados os descobrimentos portugueses, que considero mais importante do que a chegada do homem à Lua”, diz. “Mas não foi só isso, eu quis recriar toda a história, inclusive a parte dos deuses, que terão participação especial em grandes telões.” Chamado de Estação das Artes, o novo espaço no Complexo Júlio Prestes vai ocupar a antiga entrada da estação de trens, cedida pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A reforma durou quatro meses, ao custo de R$ 800 mil. Foram preservados e restaurados os mármores, os lustres em bronze, os vitrais que contam a história da estação e os arcos. “Realmente, são necessárias todas pessoas e todo esse dinheiro para alimentar minha loucura”, faz graça. Já o diretor, Iacov Hillel, faz suspense: “O maior objeto cênico no palco será uma caravela toda... quer dizer, a nau vai possibilitar uma interatividade que... ah, não posso contar”, diz. “Tenho certeza de que o público vai se entusiasmar e voltará mais de uma vez para assistir.” Para os leitores do Sampacentro, só um trechinho: “Vereis que como as velas leve ao vento/ Vereis que vale a vida mais que o vento”, canta a amante ao amado que parte com Vasco da Gama a uma viagem de aventuras, enquanto ele acena para ela com um ramo de louros. A temporada vai até o dia 27 de maio. E, ainda este ano, “Os Lusíadas” deve ir para o Rio... e depois Portugal, sonha Ruth. (23/03/2001) Serviço:
Peça: Os Lusíadas
Direção: Iacov Hillel
Produção: Ruth Escobar
Texto: Luiz de Camões
Adaptação: José Rubens Siqueira
Com: Marat Descartes, Daniel Faleiros, Nílson Muniz, Patrícia Dinely e outros
Estréia para convidados: sexta, dia 23/3, às 20h30
Estréia para público: sábado, dia 24/3, às 19h e às 22h
Horários: quartas, quintas e sextas, às 20h30; sábados, às 19h e às 22h (a partir de 31 de março, às 18h e às 21h); domingos, às 19h. Até 27 de maio
Preços: de R$ 15 a R$ 30
Onde: Plataforma da Estação Júlio Prestes (550 lugares) - Praça Júlio Prestes, s/nº, tel. 3337-5414