Todos os tons

A base rítmica de uma orquestra é dada pelo tímpano, um instrumento pouco conhecido pela maioria das pessoas, que fica escondido no fundo do palco. Para se ter uma idéia da importância deste instrumento de percussão, o timpanista vem logo atrás do maestro em ordem de importância, já que em uma sinfônica ele é o segundo regente. "O timpanista de uma orquestra carrega uma grande responsabilidade na hora de um concerto. Ele deve ser muito bom, se não pode derrubar uma orquestra inteira", afirma Elizabeth Del Grande, integrante da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Elizabeth começou a tocar bateria em 1964. Foi revelação feminina aos dez anos e naquela idade já acompanhava famosos na música popular, como Zimbo Trio, Bossa Nova Jazz Trio e o programa "O Fino da Bossa", que era apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. "Como comecei muito cedo, a entrada para a música erudita foi um passo que veio naturalmente na minha vida. Queria aprender mais e me especializar em instrumentos de percussão". Quatro anos depois de sua estréia na bateria, em 1968, a revelação paulistana entrou para a Escola Municipal de Música, onde estudou toda a gama de instrumentos de percussão, especializando-se em tímpano. Desde 73 como integrante da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), Betinha, como é chamada pelos colegas viveu grande parte de sua vida perambulando pelo Centro da cidade, nas diversas casas onde a orquestra se apresentou. "Presenciei a morte e a ressurreição da Osesp. No governo Mário Covas, nossa sinfônica ganhou uma casa digna, a Sala São Paulo, que é uma maravilha, um elogio por si só. Neste governo, nós, músicos, fomos tratados com respeito, passamos a receber um bom salário e fizemos parte de um processo importantíssimo de revitalização da região central, não só arquitetônica, como cultural, histórica e de orgulho para os moradores desta metrópole", conta. "Aqui no Centro eu conheço quase tudo. Meus tios e minha irmã trabalhavam perto da Praça do Patriarca e eu andava por tudo, ali na região do Teatro Municipal, Viaduto do Chá, no Pátio do Colégio, fazia compra nas Casas Fretin. Este fim-de-semana mesmo combinei com meu primo de ir até o Mercado Municipal. Lá tem o famoso sanduíche de mortadela, sabe qual é?" Criada em 1953 por Souza Lima, a Osesp teve início, de verdade, somente em 1972, sob a regência de seu titular Eleazar de Carvalho. Quase duas décadas depois, com a morte deste, John Neschling foi convidado como o novo regente da orquestra. Somente em junho de 1999 a Osesp ganha um casa definitiva. "Acho que o meu grande sonho e o de todos os meus colegas é dar continuidade ao que temos hoje aqui na Sala São Paulo. Vou fazer 30 anos de carreira e espero que a Osesp vingue e que não haja prejuízos nas mudanças de um governo para outro." Hoje, Elizabeth faz mestrado em Musicologia na USP, sua tese diz respeito à evolução do tímpano na Orquestra Sinfônica Paulistana. A paixão pela música ocupou e ocupa a maior parte de sua vida, motivo que a fez teorizar um pouco sobre a questão. "Comparo o músico a um atleta e a um cirurgião. O atleta tem de praticar diariamente e a cada dia superar um novo desafio. O cirurgião estuda demais para pôr toda a teoria acumulada em um único momento. Assim é o músico, a cada dia presenteado com uma descoberta, o que se impõe como um desafio. Além de estudar muito, o músico se prepara para ser perfeito no único momento no qual não pode errar: no concerto", teoriza. A temporada oficial da Osesp em 2001 será realizada esta semana, na quinta-feira (8/3) e no sábado (10/3). Na abertura será apresentada a "Missa em Si Menor", de Johann Sebastian Bach. "A Osesp entrou em 2001 com diversos projetos importantes. No segundo semestre faremos uma turnê pelo Brasil de aproximadamente 20 dias. Em junho, o selo Bis estará lançando nosso primeiro CD comercial, com obras de Francisco Braga. Em 2002, faremos turnê pelos Estados Unidos e no próximo ano seguiremos rumo à Europa", diz, entusiasmada. (10/03/2001)