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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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"A gente nasceu na guerra e quer paz"

O rap (rythm and poetry) surgiu com os DJs arranhando os discos e os MC's soltando o verbo sobre os backbeats e os ritmos. Depois, incorporaram os loops de bateria, guitarras de hard rock e beats pesados com letras que demonstram forte consciência social e política até chegar ao rap e ao hip hop dos anos 90. Em São Paulo, o hip hop surgiu na década de 80, no Largo São Bento, local onde os adeptos do movimento se reuniam. No Centro de São Paulo o hip hop está presente até hoje e vem ganhando cada vez mais força. Basta dar um rolê pelo térreo e subsolo da Galeria do Rock. Não se tratam apenas de lojas de discos, mas de um grande nicho de atitude. O grupo Záfrica Brasil existe desde 1995 e luta pelos direitos de quem mora na periferia: o acesso à informação e à educação. No dia do aniversário de São Paulo, Gaspar, o vocalista do grupo, esteve presente em um estúdio montado pela rede CBN no Pátio do Colégio e aproveitou para falar sobre o movimento. "O hip hop tem quatro elementos: Mc, DJ, break e grafite. O beatbox (batidas feitas com a boca e a garganta), que é mais recente, seria um quinto elemento", diz. O grupo formado no Capão Redondo participa de movimentos sociais na periferia chamados de posses, que oferecem aulas de DJ, dança, grafite, bem como palestras sobre assuntos como a consciência negra. Segundo Gaspar, "é uma tentativa de fazer algo junto à sociedade." Quanto à origem do nome, o músico explica: "a letra Z é de Zumbi dos Palmares, que foi o maior líder negro, e África e Brasil são as nossas raízes." Demonstrando muito conhecimento em História do Brasil, especialmente no que diz respeito à colonização portuguesa e à escravidão, Gaspar diz que "não tem como fazer parte da cultura sem conhecer. Procuramos quebrar o preconceito que existe de que na periferia só tem gente limitada." Comparado a grupos americanos como Cypress Hill e De La Soul, o Záfrica Brasil faz um som adaptado à cultura nacional. "Pegamos a cultura importada e transformamos em brasileira. Além das influências musicais, sempre procuramos trazer os termos do hip hop para o português. Então, em vez de falarmos 'free style', dizemos 'improviso'." Gaspar conta que conheceu o hip hop em 1992 e logo começou a escrever algumas músicas. "Conheci o Fernandinho (que faz o beatbox) e começamos a nos apresentar em rodas de hip hop. Em 93 nos unimos e em 95 nos definimos como grupo de rap brasileiro." Ao lado de outros grupos nacionais como Racionais MC's e Conceito Moral, O Záfrica quer a democratização da cultura. "Na periferia, a única diversão é a televisão, que massifica e não mostra a cultura popular. Lá não tem cinema, nem Sesc", diz. E emenda: "a gente nasceu na guerra e quer paz." (05/03/2001)

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