Brincadeira de criança

Por fora, apenas um dia de sol. Mas, lá de dentro, se houve um burburinho esquisito. Convidativo, mas não muito paulistano. “É brasileiro”, diria Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca. É lá que ele prepara sua mistura de arte, sol, verde, design, um cafezinho e muita história. Soteropolitano, que adotou São Paulo como cidade do coração, deu um presente para a cidade: R$ 1 milhão de reais em arte brasileira. Mas o menino que brinca no espelho d’água nem liga, entretido que está numa dança ao som de seu assobio. Pula de um lado para o outro. Do Parque da Luz para a Pinacoteca. E desta para o parque. E, do parque, de volta ao museu. Indo e vindo. Até que o pai se distrai. Finge encostar na parede e dormir. O garoto volta para perto dele, pedindo mais atenção. Juntos entram no museu. A criança parece gostar da área recheada com design, onde pode brincar com as peças de acrílico. O pai se diverte também, ao viajar de volta no tempo, rumo a antigas embalagens e instrumentos de cozinha presentes em sua infância. A mostra "500 Anos de Design" agrada a todos. "Que roupa estranha", diz o menino a um traje à prova de fogo que faz parte de uma instalação. O pai nem tenta explicar. Apenas sorri. Cúmplice, sorrio também. Visitam o andar de baixo. O subsolo esconde alguns tesouros, que o menino logo encontra. Por que será que, quando crianças, descobrimos tudo? E se atira ao lado de uma escultura de caçador. Finge pescar com uma estátua de índio que carrega um peixão. Imita a careta de uma tela. Volta cansado em direção ao pai, que dá uma piscadela para um quadro do século passado. E tenta morder uma maçã gigante de cerâmica. Ele carrega o garoto no colo, girando, girando. O menino ri. Me pego rindo também, de bobeira. E ainda tenho o rosto alegre quando os vejo saírem para mais uma volta no parque. Sei que vão, mas voltam, girando, pulando e dançando. Rumo a mais uma história. Talvez menos esquisita. (23/02/2001)