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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Literatura no sangue

Essa é uma semana especial para Maristela Calil. São 19 anos no Centro, à frente de uma das livrarias mais completas do país, atendendo intelectuais, estudiosos, artistas, políticos, estudantes à procura de livros usados, raros ou não, caros ou baratos, como o dicionário de 50 centavos ou um Gaspar Barléu original de 35 mil dólares. Dezenove anos recebendo estrangeiros interessados em assuntos brasileiros, a especialidades da Livraria Calil Antiquária. Dezenove anos restaurando folhas, encadernações, costuras e o que mais um livro antigo e/ou gasto precisar.

Mas esse acervo, que hoje conta com mais de 220 mil títulos, faz parte da vida de Maristela há bem mais que esses quase vinte anos. A livraria/sebo foi fundada por seu pai antes mesmo dela nascer, há 51 anos. Instalada primeiramente na Rua Venceslau Brás, depois na Rangel Pestana, veio, quatro décadas atrás, para a Barão de Itapetininga, na Galeria Itá. "No começo ficávamos lá embaixo, mas meu pai não gostava do passa-passa que acontecia o dia todo e se mudou aqui pro 9o andar, mais sossegado." Agora, explicar tudo que a Calil faz ou já fez nesse meio século de vida não é tarefa para um ou dois parágrafos. A solução é resumir: compra e venda de livros usados, edições esgotadas, obras raras, gravuras e manuscritos. Só para ter uma idéia, há menos de um mês, Maristela vendeu 80 quilos de livros para um museu de etnologia em Osaka, no Japão. "Já abasteci três bibliotecas em Tóquio. Os japoneses vêm sempre pra cá", conta ela acrescentando que eles falam português muito bem. As raridades são muitas, os preços, logicamente, acompanham o valor histórico da obra. Maristela está preparando um novo catálogo só com títulos antigos, alguns datados do século XVI. Dessa época, há um exemplar de "Interior of Brazil – Gold and Diamond Districts or the Country", de John Mawe com costuras de ouro 18 quilates, por 1.800 dólares. "Livros da época do descobrimento são bem valorizados por terem, além de tudo, gravuras." Essas imagens substituem as fotos de hoje e os compradores as reproduzem para vender separadamente. O trabalho de restauração e recuperação também é importante na Livraria Calil, que inclusive ganhou uma concorrência para recuperar os livros da Assembléia Legislativa de São Paulo. Maristela conta que foi mais de um ano de trabalho envolvendo cerca de 10% do acervo da biblioteca, ou seja, por volta de 10 mil volumes. Fã das capas pintadas à mão e encadernações de época, ela não costuma ler livros da moda, prefere os de arte e crônicas de viagem, mas afirma que todos têm seu valor. Aliás, valor que também enxerga no Centro. "Trouxe um casal de italianos pra visitar a região e eles adoraram. E é assim mesmo, aqui temos coisas encantadoras, como a Estação da Luz." Maristela percebeu claramente a decadência do Centro com as duas últimas gestões, mesmo assim afirma estar esperançosa com o novo governo. Mas pra ela não adianta tentar limpar as ruas, fazendo referência ao Projeto Belezura, de Marta Suplicy. É taxativa sobre a solução para a área: "Educar o povo", afirma com o know-how de 19 anos no Centro. (23/02/2001) Serviço:
Livraria Calil Antiquária
Rua Barão de Itapetininga, 88, 9o andar – Galeria Itá, tel: 255-0716
www.livrariacalil.com.br

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