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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Pierrô do trânsito

Uma pessoa no meio da rua em plena Ladeira Porto Geral, na região da 25 de Março, às vésperas do Carnaval. Seria um suicida? Não! Ele está devidamente uniformizado com um colete de listas fosforescentes. Luciano Paulo Joaquim,21 anos, trabalha para o estacionamento que fica numa travessinha da Ladeira. Ele fica ali bem no cruzamento para coordenar o trânsito. E que trânsito!!! "Aqui é a maior loucura todo dia. Fica pior na época de festas - no Carnaval e no Natal - porque a tendência é massificar", analisa ele. As calçadas, que já são tomadas constantemente pelos camelôs, não comportam a multidão que, no fim, invade as ruas e disputam espaço com os carros.

Muitas dessas pessoas que passam cumprimentam Luciano. "Você acaba conversando com o pessoal, conhecendo quem trabalha ou só passa por aqui.... Se eu fosse levar essa bagunça a sério, nem conseguiria fazer nada porque ia ficar muito nervoso. E ficar parado é um tédio!" Ele também dá uma dica: "Se você deve pra alguém não vem pra cá! Aqui você encontra quem você menos espera, até gente famosa: o Bira do programa do Jô, a Vera Verão e um monte de outros que eu já vi. Até chefe de escola de samba. Não sei se eles compram tudo aqui mas deve faltar umas coisas que eles acabam vindo pra cá." Nesta hora a entrevista foi interrompida, um coro de vozes vibrando "uououo" começou a subir a Ladeira. "Olha, olha. Vai praquele canto. Entra na loja", instrui Luciano. Eram vários policiais da Guarda Civil Metropolitana que vinham passando, fazendo com uma manada de camelôs recolhessem suas mercadorias e fugissem. Não houve violência. Eles só passaram pra espantar os ambulantes. Mas em minutos a maior parte deles já retomava seu posto. "Tá assustada?", perguntou ele quando a poeira baixou. "Isso é normal", amarrou. E retomamos a conversa. "Você já teve problemas com a polícia aqui?", perguntei. "Uma vez tava trabalhando, vinha vindo um carro da polícia com a sirene ligada e tinha um carro pra sair do estacionamento, então segurei o trânsito. Daí os guardas vieram gritar comigo. Ninguém grita comigo! Não tenho pai nem mãe, mas nem meus irmãos gritam comigo! Daí falaram que iam me levar pra delegacia. Eu fui, não devo nada pra ninguém! Puxaram minha ficha, não tinha nada e me liberaram." Luciano trabalha para o estacionamento há 2 anos e meio, ele era estagiário de processamento de dados, se formou no curso técnico. "Aqui ganho um pouco menos. Ano passado fiz cursinho, este ano começo Direito na Unip. Meu irmão vai me ajudar a pagar a faculdade. O que importa é estudar!", afirma. Para ajudar a cobrir estas despesas Luciano vai continuar trabalhando em meio à bagunça de fantasias, bijuterias, bugigangas, consumidores, transeuntes, camelôs e, lógico, de carros. (17/02/2001)

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