Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.
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O arqueólogo do Parque da Luz
“Tava procurando onde passava um cano”. Foi assim que Raimundo Jorge Santos Carvalho descobriu um aquário subterrâneo em meio ao Parque da Luz. A caverna sob o Lago de Diana era uma atração totalmente desconhecida, não havia qualquer registro a respeito. A foto mais antiga da parte inferior do Lago, de 1905, mostra canhões de cimento instalados no lugar das entradas da caverna.
"A maior parte do túnel estava desmoronado. As janelas do aquário estavam tampadas, a gente foi quebrando a cobertura e descobriu o formato delas e a armação de ferro dos vitrôs”, descreve Raimundo. Ele acredita que as raízes de duas árvores que foram plantadas no Lago de Diana garantiram a sustentação de boa parte da estrutura da caverna. “E por outro lado pode ter sido o que causou o desmoronamento”, arremata ele.
Raimundo diz que não sabe ao certo quando se deu o achado, mas sabe que foi em setembro. Ele trabalha como pedreiro no Parque desde o começo da restauração, há um ano. “Aí eu sei!”, brinca ele. E também foi protagonista de outro acontecimento mais recente.
“Desta vez estávamos escavando uma palmeira e descobrimos a estrutura do Canudo”, conta dando a impressão de que não sabe a importância real do que tem encontrado debaixo da terra até então. O Canudo do Dr. João Teodoro era o apelido da Torre do Observatório Meteorológico e Mirante– o primeiro arranha-céu de São Paulo com 20 metros e 5 andares. O Observatório foi desmanchado em 1900 talvez porque em suas escadarias tenha ocorrido um escândalo com uma nobre dama da sociedade, talvez porque atrapalhasse a vista da Torre do Relógio da Estação da Luz ou devido a uma inclinação semelhante à da Torre de Pisa, na Itália.
Mesmo com tantas descobertas emocionantes para a história do Parque, ele diz que é sossegado trabalhar ali. E sabe que ainda tem bastante trabalho pela frente. Além da região do Canudo ter que ser um pouco mais trabalhada, pois suas estruturas ficarão à mostra, a reforma do aquário não pode ser considerada completa. No dia de nossa visita ao Parque pouco se via pelas janelas além de alguns peixes encobertos pela água turva. “Isso porque choveu ontem e ainda temos que dar um trato no Lago”, explica Raimundo. (09/02/2001)