Um projeto que é a nossa cara

No último dia 25, enquanto pessoas brigavam pela existência ou não de um pedágio em uma rodovia paulista, eu e mais um grupo de jovens resolvemos comemorar de um jeito diferente o aniversário da cidade: ajudando moradores de rua do Centro.
O primeiro lugar que visitamos foi o Largo São Francisco. Não foi difícil manter contato com os moradores dali, tendo em vista que alguns deles vieram já pedir dinheiro em troca de tomar conta do carro. A conversa começou com um: "serve uma cesta básica?" e logo surgiram mais e mais moradores atrás das doações.
Logo descobrimos que eles vivem ali mesmo na praça, abandonados em meio ao lixo e à criminalidade. O mesmo acontece com os moradores em frente à sede da UIPA (União Internacional de Proteção aos Animais). Na extrema miséria, eles dependem da boa vontade de quem vive na região e doa alimentos. A pinga é um elemento inseparável "pra passar o dia" de quem jura que nunca cometeu um crime na vida.
A distribuição de 15 sacolas contendo alimentos básicos foi o pontapé inicial do projeto batizado de "A cara de São Paulo", que visa mais que filantropia: queremos conhecer e saber das necessidades de cada pessoa. Tentamos ir muito além de dar mantimentos, e doar também carinho e atenção. E é logo de cara que sentimos a necessidade disso. Entre o fedor e a sujeira da rua, há um acolhimento muito grande ao demonstrarmos interesse em oferecer algo. A mudança na feição das pessoas é evidente, mostrando o quão necessitadas elas são e onde um pouco parece “um muito”. Mas existe a consciência de que o que estamos fazendo é muito pouco, e serve apenas pra aliviar a pressão dos que estão ali.
Sábado, dia 27, saímos novamente às ruas, desta vez para distribuir roupas (mais de 80 peças), mais sacolas de alimentos (15 em média), tirar mais fotos e ouvir histórias, reclamações, pedidos, e até um sambinha feito com batuque em um galão vazio e uma lata de refrigerante cheia de areia. As roupas doadas foram fruto de campanhas nossas entre nossos parentes e conhecidos, assim como os alimentos. Queremos que o projeto cresça, e que a doação venha de toda a parte.
Sábado, dia 3, está programada uma volta aos lugares já visitados para entregarmos uma cópia das fotos que tiramos dias 25 e 27. Com certeza mais material será doado. Como o projeto ainda é recente, estou crescendo junto com ele, assim como meus colegas. E nosso desejo é colocar nossas metas (que não são poucas) em prática brevemente. Se você quer mais informações sobre o projeto e nossas metas ou ver mais fotos, acesse: www.acaradesp.cjb.net, ou entre em contato com a gente: acaradesp@sampacentro.com.br.
(02/02/2001)
Marcos Diego Nogueira, especial para o Sampacentro