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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Multifuncionalidade e uso 24 horas

Marco Antonio Ramos de Almeida é diretor executivo da Associação Viva o Centro desde sua fundação, em 1991. A Associação tem o objetivo de retomar o desenvolvimento da área central de São Paulo em seus aspectos urbanísticos, culturais, funcionais, sociais e econômicos, de forma a transformá-la num Centro Metropolitano, que contribua para o equilíbrio econômico e social da cidade. Sobre isso, Marco Antonio tem uma visão bastante otimista. Ele acredita que, com uma gestão competente, que saiba aproveitar a "multifuncionalidade" da região, como define, é possível recuperar a área e até transformá-la na "Broadway paulistana". (16/12/2000) O senhor afirma que melhorar o Centro é mais fácil do que parece. Como provar isso depois de anos de abandono e deterioração?
Simples. A área central é muito pequena em relação ao resto de São Paulo e já tem toda uma infra-estrutura disponível, ou seja, não demanda grandes investimentos. São só 4,4 km2, menos de 0,5% do cidade, com sete estações de metrô, duas ferroviárias, 280 linhas de ônibus, quatro terminais urbanos, mais de 400 prédios históricos, 11% do total de empregos na cidade e 40% da área do sistema financeiro da capital. Além disso, o Centro tem uma boa distribuição de água, energia e é totalmente coberto por redes de cabeamento óptico. Ok, a infra-estrutura, que é onde se gasta mais dinheiro, já está prontinha. O que falta então?
Primeiramente manutenção. É preciso dar mais atenção à questão do lixo, por exemplo. Limpeza é fundamental, assim como a segurança. Mas, para isso, é preciso de verba, não?
Não muita, porque esse dinheiro já existe e está no orçamento do município. Ele deve apenas ser melhor administrado. Uma boa iniciativa seria fiscalizar quantas vezes se varre o Centro. Segundo um levantamento, a área é limpa cerca de duas vezes por dia, metade do que o dinheiro reservado garante para a cidade. E a segurança, questão que ainda faz com que muitos evitem ir ao Centro?
Vou dar um exemplo fictício para ficar mais fácil de se entender. Com mil policiais militares espalhados pela cidade, teríamos um PM por quilômetro quadrado. Se esse contingente for distribuído na área central, a proporção seria de 250/km2. Viu como numa área pequena é mais fácil de resolver os problemas?! Bom, mas é preciso mais do que segurança e limpeza pra revalorizar o Centro, não é? Como conseguir isso?
A palavra-chave é multifuncionalidade. É preciso explorar todas as características do Centro: o lado financeiro, comercial, histórico, governamental, educacional, turístico, habitacional e cultural. O Centro não tem apenas uma, mas várias vocações. O senhor falou em habitação. Na última campanha eleitoral, a então candidata Marta Suplicy também falou muito nesse aspecto, afirmando que é preciso ter gente morando no lugar para ele se desenvolver. Concorda com ela?
Lógico, ela está corretíssima. Deve-se incentivar a moradia nos bairros centrais, onde moram apenas 65 mil pessoas, sendo que eles têm capacidade para mais de 1 milhão de habitantes. Com isso também se desafogaria o transporte urbano. Como assim?
Eu explico. Muita gente trabalha no Centro e mora nos bairros afastados, certo? Se elas morassem próximo do serviço, poderiam ir trabalhar a pé ou com uma única condução, melhorando a qualidade de vida delas. Agora, supondo que alguém more no Centro e trabalhe na Paulista ou em Santana. Essa pessoa estaria sempre no contra-fluxo do trânsito e do metrô. E a questão de cuidar melhor de onde se mora?
Isso também é verdade. Morando no Centro, a preocupação com a área seria maior. E se incentivaria também o chamado "uso 24 horas". É preciso dar movimento ao local à noite, já que nesse período o Centro é quase deserto, causando medo nas pessoas. Além do mais, sua infra-estrutura é subutilizada neste horário. Tem a parte cultural... concertos no Teatro Municipal de vez em quando, isso não conta?
Conta lógico, mas precisamos ampliar essas atividades. Já há algumas realizações, como a inauguração do Masp 2, na Galeria Prestes Maia e os projetos do Centro Cultural Banco do Brasil e do Correios. Mas o ideal é transformar o Centro na "Broadway paulistana", com teatros, cinemas, centros culturais e exposições.

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