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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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A noiva do Centro

Domingo, dois de julho de 2000, dez horas da manhã. Uma noiva se prepara para dar os passos mais importantes de sua vida. Só que, nesse caso, ela não caminha em direção ao altar, mas rumo às escadarias do Edifício Banespa. "Correr atrás da fama cansa", diz Eliel Paim, 23 anos, ex-office boy.

Conhecido pelas aparições na TV, nas quais se posiciona atrás do repórter quando estes fazem alguma matéria ao vivo, Eliel persegue a fama desde 1990. "Eu trabalhava na Líbero Badaró, por isso sempre andei muito pelo Centro", conta. Sintonizado em alguma rádio de notícias a maior parte do dia, o "Melancia", como é chamado pelos amigos, sai do trabalho mais cedo e segue para o local onde está sendo feita a reportagem. "Tenho uma mini-televisão portátil e fico ouvindo pelo fone - todos os repórteres já me conhecem, por isso fico esperando do outro lado da rua, para que não me vejam", diz. Depois de alguns anos "na profissão", Eliel foi aprimorando sua prática. Em 1995, teve a idéia de participar da corrida de São Silvestre com um par de chifres na cabeça. Surtiu resultado, mas no ano seguinte ele inventou outra fantasia. “Na São Silvestre, vestido de super-homem, saí correndo atrás do primeiro colocado", recorda-se. "Fui parar na delegacia, tenho até o B.O. - fui preso porque queria ficar famoso", diverte-se. "Os policiais e até o delegado me reconheceram". Foi quando descobriu o vestido de noiva: "Precisava usar algo que ninguém nunca tivesse feito", diz. Em 1997, usou o vestido da mulher de um amigo na corrida de São Silvestre. Dois anos mais tarde, ficou sabendo da Corrida dos Degraus do Edifício Banespa pelo jornal. Venceria quem completasse o percurso no menor tempo possível - os participantes foram divididos em grupos, por sexo e faixa etária. "Só eu fui fantasiado", comemora. O resultado: percorreu os 820 degraus, o equivalente a 32 andares, em 8 minutos - o primeiro colocado completou a prova em 3 minutos e 27 segundos - e ganhou uma fila de fãs querendo tirar fotos com a celebridade. Nesse meio tempo, Eliel passou a ser procurado para falar sobre a perseguição à fama. Só esse ano, ele já apareceu mais de 100 vezes na mídia, desde programas de TV, como "Ratinho" e "Fábio Jr.", até jornais, revistas e Internet. Sempre falando rápido, ele explica que nem os vídeos caseiros escapam: "Se estou andando na rua e vejo que tem algum casamento, entro na igreja para sair na filmagem", revela. Em um outro episódio, em 1997, levando velas acesas nas mãos, integrantes do MST faziam uma passeata pelo Centro. "Quando vi que estavam filmando, entrei em uma loja, comprei uma vela e me juntei ao povo", conta Eliel. "A intenção, no começo, era apenas eu me ver, mas daí as pessoas começaram a me reconhecer e eu gostei. Agora em todo lugar me perguntam quando é que eu vou aparecer de novo."

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