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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Da Febem à Prestes Maia: a melhor mudança do mundo

José Ferreira, de 30 anos, e Ademar Henrique, de 58, são seguranças na Galeria Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú. Na verdade, não há muito trabalho para fazer, a maior parte consiste em vigiar a galeria, evitando que mendigos, meninos de rua ou desocupados atrapalhem os funcionários Cohab, localizada dentro da Prestes Maia.

"Aqui aparece de tudo um pouco, desde malandros até 12 e meio", conta José. Ele explica que 12 e meio é uma gíria usada para designar uma pessoa que não é completamente louca, mas está quase lá. "Eles têm atitudes estranhas, ficam falando besteiras e fazendo gestos, mas só vou tirá-los quando estão atrapalhando quem está trabalhando." O segurança conta ainda que faz isso "numa boa" para não chamar muita atenção nem gerar tumulto. Ademar lembra o colega de um dia em que um adolescente, com roupas estranhas, ficou subindo e descendo as escadas rolantes com uma barra de ferro na mão. "Ele olhava pra cara das pessoas e dizia que era juiz, por isso todo mundo tinha que respeitá-lo e obedecê-lo", conta ele, rindo bastante. Mas nem sempre a rotina de trabalho dos dois seguranças foi tão pacata e divertida. Eles trabalharam na Febem e enfrentaram muitos desafios e algumas situações de perigo de que nunca se esquecerão. Em 1994, José era funcionário da maior unidade, a do Tatuapé, em que há cerca de 900 internos. Ele conta que na época em que trabalhava lá, tudo era muito diferente do que é a Febem hoje. "A gente tinha controle, segurava a onda legal, não era a zona que é hoje, cheio de politicagem." José conta ainda que, de todo o tempo em que permaneceu na Unidade –-três anos-–, enfrentou apenas uma rebelião, "mas não foi perigosa como as de atualmente." Na opinião de Ademar, para trabalhar na Febem é preciso estar alerta todo o tempo, sem poder vacilar nem um segundo sequer. "Os vagabundos têm o tempo todo livre pra ficar procurando uma falha do segurança para aproveitar e fugir." Mas, apesar disso, ele afirma que nunca passou por uma situação de muito perigo, era só um estresse constante. Como são colegas de trabalho há quase dois anos --José e Ademar estão sempre papeando-– e passaram por experiências parecidas, eles têm muitas opiniões em comum. Uma delas é a de que se comparado ao da Febem, o emprego na Galeria Prestes Maia é o melhor do mundo. "Aqui a gente fica mais sossegado, vê um montão de gente", diz Ademar. José conta que nenhum vigilante com três ou quatro anos de experiência quer trabalhar na Febem. "Só os mais novos vão, é muito arriscado e o salário não compensa." Sobre o barulho constante de carros, ônibus e ambulantes ao redor da Galeria os dois também têm a mesma opinião: "Não atrapalha não, só ajuda a passar o tempo."

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