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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Breve história de um passageiro

Para quem nunca foi à Estação Júlio Prestes, não se surpreenda com a parede de vidro que separa o concourse da estação e a Sala São Paulo, a maior sala de concertos da América Latina. Apesar da proximidade física entre os dois lugares, a maioria das pessoas que passa diariamente pela estação só conhece a sala vizinha pelo fato de a parede ser de vidro. Esse é o caso de Reginaldo Malaquias de Freitas, um passageiro à espera do trem para Osasco.

Na manhã de terça-feira, foi quase impossível encontrar alguém sentado nos bancos de espera na Estação Júlio Prestes. Acomodavam-se num canto funcionárias da limpeza, no outro, um homem aproveitava o intervalo para tragar uma bituca de cigarro. Um sujeito sentado próximo das catracas era talvez a única pessoa possível de uma conversa. O olhar estava fixo em direção à sala e por isso, parecia estar interessado no que se passava lá dentro. Pois o Reginaldo Malaquias de Freitas tinha trabalhado a noite inteira e estava cansado para levantar daquele banco na estação. "Quero muito conhecer a Sala São Paulo, mas hoje estou acabado. Estou trabalhando como segurança na Mostra do Redescobrimento o dia todo. Preciso voltar para casa e descansar", conta. Da Estação Júlio Prestes ao município de Osasco são gastos cerca de 40 minutos. Nesse trajeto diário, Malaquias sente-se privilegiado pelo conforto de vir e voltar sentado, mas se incomoda um pouco com os ciganos pedintes e os camelôs dentro do trem. "Tem de tudo nesse trajeto. Fica cheio de camelôs vendendo coisas. Às vezes, até compro um refrigerante ou um docinho. Conheço um ceguinho que entra na estação Barra Funda todos os dias e toca violão para animar o pessoal e ganhar umas moedas. O que eu não entendo são esses ciganos pedindo esmola. Veja só essa gente cheia de ouro pedindo dinheiro, pode?", conta. Na Mostra Brasil 500 Anos, Reginaldo foi recrutado para a segurança no posto da Oca. Lá ele cuida do Guia Digital, guardando fones e aparelhos de discmans. No sábado que as catracas registraram mais de 8.000 visitantes na Oca Malaquias percebeu que seria difícil visitar todas os módulos da exposição. "Eu só visitei a Oca, uma pena, porque a exposição vai acabar daqui a uma semana", diz. O mesmo parece acontecer com a visita à sala Sala São Paulo. Malaquias promete fazer uma visita, mas argumenta que "nunca sobra tempo ou disposição". Nada mais clássico do que uma resposta como essa para quem vive na correria de São Paulo.

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