Talento e transpiração
Na época em que o trompista paranaense Ozéas Arantes veio morar em São Paulo, o Vale do Anhangabaú ainda era trafegável, o metrô só funcionava na linha norte-sul e o Teatro Municipal não tinha sofrido a última reforma. Ano de sua chegada: 1977.

Na adolescência, Ozéas cursou o colégio técnico de edificações. Ele queria ser engenheiro. Filho de militar músico, a influência artística paterna foi mais forte na hora de decidir a profissão. Ele optou pela música erudita, com a qual decidiu se envolver desde então. Aos 19, já tocava na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Durante o tempo que passou no Rio Grande do Sul estudou três semestres de Música na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Passada a temporada no Sul do País, foi convidado para tocar na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), dividindo o tempo com os trabalhos na Orquestra Municipal de São Paulo.
“Em 1981 recebi uma bolsa de estudo em Nova York, na Julliard School of Music. Passei três anos nos EUA tocando ao lado de Harry Berv e Myron Bloom, meus dois professores lá. Foi uma ótima experiência, que me permitiu sair do Brasil sem me desligar da Osesp. É ótimo quando acontece assim”, relembra.
A permanência na Osesp por mais de 20 anos lhe garantiu uma peculiar aproximação com o Centro da capital paulista. Até 1986, o Teatro Cultura Artística foi a casa da Osesp. A partir deste ano, a Osesp passou por uma fase que durou cerca de uma década, passando de um recinto para outro localizados na região central da cidade.
“Naquela época tocamos uma temporada no Teatro Sérgio Cardoso, depois mudamos para o Teatro São Pedro. Até mesmo o antigo cinema do Edifício Copan, a sala onde hoje funciona a Igreja Renascer, abrigou a Osesp. Mas o pior lugar no qual já estivemos foi o Colégio Caetano de Campos, uma escola pública sem qualquer tipo de estrutura para abrigar uma orquestra”, recorda.
Hoje a Osesp ganhou sede fixa, uma sala de concertos tão imponente que pode até compensar a década de insegurança pela qual passaram todos os músicos da orquestra. A Sala São Paulo, inaugurada em julho de 1999, é considerada uma das melhores salas de concerto do mundo. Nas nove salas de ensaio, os músicos trabalham seis diárias por semana, tocando um programa ao dia. A Osesp se apresenta todas as quintas, às 21h, e, aos sábados, às 16h30.