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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Banca com chá

Em 5 de outubro de 1877, o jornal A Província de São Paulo (Hoje, O Estado de S. Paulo) publicava a seguinte notícia com fontes garrafais: "Projeto de Viaduto - novidade para São Paulo está nas vidraças do Sr. Jules Martin um belo quadro litográfico representando o que por vêzes se tem falado entre nós como meio plausível de ligar por meio da linha de bondes a Rua Direita, isto é, o Centro da cidade, ao nôvo e próspero bairro do Morro do Chá, Rua da Pallha e Largo dos Curros". Chegava ao povo, com grande alarde, o projeto do francês radicado na cidade, Jules Martin: a construção do Viaduto do Chá.

Cento e vinte e três anos depois, Nivaldo Pinheiro trabalha na Banca do Chá, que vende mais de 200 tipos de publicações, além de guloseimas e conveniências. "Também vendo o Estadão, igual daquela época, mas hoje o povo gosta mais de ficar lendo as notícias do NP", brinca. Ele não liga que as pessoas folheiem as revistas na banca. "É melhor que o povo fique aqui fazendo bagunça do que não ter ninguém". Ele adora a correria do local, mas reclama da falta de tempo para fazer programas culturais no Centro. "O Teatro Municipal, por exemplo, é aqui na frente e nunca fui, é muito trabalho." Há dois anos, Nivaldo perdeu seu emprego em um escritório e, na dificuldade de encontrar outro, foi trabalhar com o irmão Djalma na banca. Lá, ficava o dia todo trancado em um sala, no Viaduto do Chá, diz ver milhares de pessoas das mais diferentes raças e idades e adora ter contato com todos esses tipos. Para Nivaldo, o melhor do Centro são os músicos e artistas de ruas que levam alegria para o povo. Já Djalma discorda: "acho o Centro agitado demais, muita barulheira." Mas Nivaldo fica revoltado com os trombadinhas da área: "Eles passam derrubando até os velhinhos". Mas Nivaldo afirma não ver muita coisa triste por aqui, "é só a pobreza das pessoas mesmo". Talvez nada tão "poético" quanto o bilhete encontrado no bolso de um homem endereçado ao próprio Viaduto: "Bendito sejas, Viaduto Paulista! Sem tu não poderia eu passar desta para a melhor, embalado pela brisa que te circunda. Adeus! Até para a eternidade és o passadiço de útil eficiência! Bendito sejas, Viaduto querido, adeus!". Segundo o escritor Cursino de Moura, o "sujeito" foi encontrado estatelado embaixo do Viaduto em meados da década de 30.

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